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Reinaldo Azevedo

“É a política, estúpido!” Preso ou solto, Lula usou a seu favor os atos doidivanas da Lava Jato

Reinaldo Azevedo

04/12/2017 16h33

Vamos ser claros? Quem não sabe o que fazer em 2018 são a direita e a centro-direita. Os demais candidatos vão bem, obrigado. Vejam lá: o cenário que todos consideravam improvável há um ano, exceto o doido aqui, se consolidou. Lula sobreviveu à Lava Jato, deu uma chave de braço no lava-jatismo doidivanas e lidera as pesquisas de intenção de voto. Se puder ser candidato – não vai poder -, vencerá a disputa.

Sua vantagem, em relação a setembro, aumentou no confronto com todos os candidatos no segundo turno, Contra o tucano Geraldo Alckmin, uma diferença de 14 pontos passou a ser de 22: 52% a 30% ante 46% a 32% há dois meses. Contra Marina Silva (Rede), os antes 8 pontos de distância (44% a 36%) são agora 13 (35% a 48%); contra Jair Bolsonaro, os 47% a 33% (14 pontos) se converteram em 51% a 33% (18 pontos). Nos três casos, o petista cresceu; seus adversários ou caíram ou ficaram na mesma.

Lula vai ser condenado e pode até ser preso, mas ele quebrou a espinha política da Lava Jato. O partido que comandou a maior máquina de privatização da coisa pública — com ou sem roubo para enriquecer vagabundos, o seu maior crime foi o assalto político ao Estado —, conseguiu vencer politicamente o lado policialesco da operação,

Percebeu, com impressionante rapidez, a despeito do que dizia ao público, que não se tratava de uma ação orquestrada contra um partido político, mas contra a política. Berrou "discriminação, injustiça, golpe etc", tratou de excitar o sentimento da união dos miúdos contra os graúdos — como se ele, PT, fosse pequeno —, uniu-se em torno de seu líder e não cedeu às intimidações da Lava Jato.

Fez, em suma, o contrário do PSDB. Este se ajoelhou, com raras exceções; diante de Rodrigo Janot e procuradores, endossou ações ilegais da operação, inclusive contra os seus; começou a prestar reverência a grupos que apoiam justamente lado mais nefasto da atuação do Ministério Público Federal — seu aspecto policialesco e "ilegalista". Eis aí o resultado. Mais: os tucanos acharam que era uma boa ideia juntar forças contra o governo Temer, que caminha o bom caminho, pegando carona num "Fora Temer" que, vamos convir, nem o próprio PT levou a sério.

Lá nas suas entranhas, Lula e o PT querem mais é que Temer conserte o que dá para consertar. Uma coisa é certa: a bandeira da oposição é do petismo, não do tucanismo. Chega a ser estelionatário o discurso oposicionista do PSDB.

Mais um pouco: o PT não é burro e percebeu, desde sempre, que o ataque generalizado a todos os partidos e a todos os medalhões da política era o caminho perfeito da sua ressurreição. E, então, deu graças a Deus quando viu a coisa fugir completamente ao controle de qualquer razoabilidade e parâmetro legal. E, bem, agora, sou obrigado a lembrar…

Fala, Reinaldo Azevedo, em 17 de fevereiro de 20017, em coluna na Folha:
"Se todos são iguais, então Lula é melhor".

Eis aí. Só restará agora aos adversários de Lula o papel constrangedor, mixuruca, mesquinho mesmo, de torcer para ao TRF4 condenar Lula. Chegamos a um ponto de ruindade em que é preciso que o tribunal faça o que o povo não faria.

"Ah, mas as instituições estão fortalecidas!"

Uma ova! Não estão, não!

Ao contrário: a cada dia, e sempre mais do que no anterior e menos do que no seguinte, um tantinho da institucionalidade se rende ao alarido, à gritaria e ao populismo.

Como Lula não estará na disputa, e isso é praticamente certo, ninguém sabe ao certo o que virá. Mas uma lição já está dada: falando maravilhas ou bobagens, política se faz em pé e com lealdade aos pares. O resto é conversa de trânsfugas do oportunismo.

Os rapazes malvadinhos do MPF, sob o comando do destrambelhado Rodrigo Janot, conseguiram realizar esse prodígio!

Não, Reinaldo, foram os políticos,,,", diz o analista burro ou de joelhos no altar da lava-jatismo.

Besteira! Se essa análise estivesse certa e se estivessem a ser punidos eleitoralmente, seguindo a hierarquia dos seus malfeitos, os políticos que comandaram a festa, Lula seria o último colocado na preferência. E, no entanto, ele é o primeiro.

Às vezes, a gente diz: "É a economia, estúpido".

Mas, sempre chega a hora em que é preciso dizer: "É a política, estúpido!"

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.