Eis que volta Palocci, um candidato liberal, ignorando os nomes de Buratti e Francenildo

Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, reaparece numa matéria de Vera Rosa, no Estadão deste domingo. É candidato a deputado federal e está se lançando com uma plataforma que chama de "Carta ao Povo de São Paulo". A referência óbvia é a "Carta ao Povo Brasileiro", que marcou oficialmente a guinada do PT. A original foi redigida num banco de investimentos aqui em São Paulo, o que pouca gente sabe. A de Palocci foi mais ou menos escrita quando ele ainda estava no Ministério da Fazenda e marcou um atrito com a então recém-empossada chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na sua "carta", o petista demonstra que sabe direitinho rezar o credo que, em qualquer lugar do mundo, seria classificado de "liberal". São dez pontos que não fogem muito ao que se diz por aí na esfera do bom senso. O mais polêmico é a defesa da independência do Banco Central, que o PT não aceita. Palocci também diz estar escrevendo um livro, mas avisa que não é para comprar briga com ninguém, evidenciando o seu bom-mocismo. Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem. O que me estranha é lembrar que o ex-todo-poderoso do governo Lula foi alvo de pesadas acusações de Rogério Buratti. Seu ex-auxiliar não só o implicou diretamente com a famosa Casa do Lobby, de Brasília, como afirmou que ele recebeu mensalão de uma empreiteira quando prefeito de Ribeirão Preto. Mais do que isso: disse que ele continuou a recebê-lo quando ministro. Ninguém é obrigado a acreditar no que Buratti diz. Por isso, a expectativa era a de que Palocci o processasse. Nada aconteceu. Ademais, as suas digitais na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo são indeléveis. Sobre isso tudo ele não fala. Vai tentar se eleger deputado, com boa chances de conseguir, em busca da imunidade parlamentar e de um ideário identificado com o liberalismo: isso tudo dentro do PT, aliado, pois, a seus anseios e afinado com seus métodos. Há quem esteja aplaudindo.