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Reinaldo Azevedo

Ex-deputado petista Cândido Vaccarezza é preso em nova fase da Lava Jato

Reinaldo Azevedo

18/08/2017 12h52

Na Folha:

Mais de dois anos depois de ser delatado pela primeira vez, o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza, foi detido pela Operação Lava Jato na manhã desta sexta (18).

A PF deflagrou duas fases ao mesmo tempo: a 43ª, chamada de "Sem Fronteiras", e a 44ª, batizada de "Abate". Vaccarezza está envolvido nesta última.

Segundo a força-tarefa, o ex-deputado recebeu pelo menos US$ 478 mil (R$ 1,51 milhão no câmbio atual) em espécie por contratos da Petrobras com a Sargeant Marine, uma empresa norte-americana que produzia asfalto à estatal.

Segundo as investigações, Vaccarezza tinha influência em negócios da Petrobras ligados à Diretoria de Abastecimento, que era de influência do PP, e "apadrinhou" 12 contratos de fornecimento de asfalto, num total de US$ 180 milhões.

O esquema foi descrito pela primeira vez por Paulo Roberto Costa ainda no final de 2014, mas as citações a Vaccarezza —que ainda era parlamentar à época— foram consideradas superficiais.

"A dificuldade de se comprovar essa solicitação de propina, que teria sido em espécie, fez a investigação seguir por quase dois anos", explica o delegado Felipe Pace, da Polícia Federal.

Também foram presos o empresário Henry Hoyer de Carvalho, apontado como operador do PP, e o ex-gerente da Petrobras Márcio Aché. Outros dois alvos estão no exterior e um terceiro teve a ordem de prisão revogada quando se soube que está hospitalizado desde o último sábado.

Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Carvalho teria substituído Alberto Youssef na interlocução com a sigla em 2012. Ele chegou a ser alvo de condução coercitiva da 13ª fase da operação, em 2015, e foi preso porque os policiais descobriram que ele tinha armas e munição de uso restrito sem autorização legal. Alguns dias depois, foi solto.

É a primeira vez na história da operação que a PF realiza duas fases ao mesmo tempo. No total, são 46 ordens judiciais em cumprimento —29 de busca e apreensão, 11 de condução coercitiva e seis de prisão temporária.

Os presos serão transferidos para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

As duas novas etapas da forças-tarefa se baseiam nas apurações relacionadas ao depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras, envolvendo denúncias de corrupção, desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro na estatal.

OPERAÇÕES

A 43ª fase se chama Operação Sem Fronteiras e investiga o pagamento de propina a executivos da petroleira por um grupo de armadores gregos, com troca de informações privilegiadas para o fretamento de navios.

As investigações apontam que Costa acertou com o cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema para facilitar a contratação de navios daquele país.

Os acordos eram intermediados por Hoyer de Carvalho e, depois, por uma empresa de brokeragem, na Inglaterra, de Georgios Kotronakis, filho de Konstantinos.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o grupo movimentou, de 2009 a 2013, contratos de mais de US$ 500 milhões —ao menos 2% desse valor (R$ 10 milhões) em propinas depositadas em offshores controladas pelos Kotronakis, por Carvalho e por Costa.

A 44ª fase, por sua vez, foi batizada de Abate e apura desvios na contratação de fornecimento de asfalto pela empresa estrangeira Sargeant Marine à estatal, mediante o pagamento de propinas a funcionários públicos e agentes políticos.

Os procuradores dizem ter provas do pagamento de propinas no exterior e de que Vaccarezza utilizou de sua influêcia no Congresso para orientar a contratação da Sargeant Marine pela Petrobras, de 2010 a 2013, por US$ 180 milhões.

Vaccarezza foi líder na Câmara dos governos do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma. O ex-deputado anunciou seu desligamento do PT em 2016.

Ainda no partido, ele tentou, em 2014, se reeleger para a Câmara dos Deputados, sem sucesso.

Na divisão de supostas propinas, de acordo com o MPF, há documentos que indicam transferências para a "casa" (funcionários da Petrobras) e para para o PT.

Os valores então devidos ao partido, totalizando propinas de pelo menos cerca de US$ 500 mil, foram destinados em grande parte a Vaccareza, sendo possível que a investigação venha a revelar outros destinatários das vantagens ilícitas. A Justiça Federal determinou a prisão temporária do ex-deputado.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.