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Reinaldo Azevedo

Fux ataca TSE; ele pediu bênção ao réu Dirceu para ser ministro e não entregou o prometido

Reinaldo Azevedo

12/06/2017 16h55

A quem serve o ministro Luiz Fux? Ao país? Teria de explicar, então, porque, até a semana retrasada, era um entusiasta da rejeição da ação que poderia cassar a chapa Dilma-Temer e, de súbito, virou a toca ao avesso e passou a defender o contrário.

Não só passou a falar o oposto do que falava antes como se tornou mesmo um militante da causa. Alguém bastante influente junto à sua consciência — seriam duendes? — determinou: "Você está com a opinião errada! A opinião certa é cassar a chapa porque precisamos derrubar o Michel Temer".

O ministro conferiu uma palestra a empresários num evento chamado "Consulting House". Foi aplaudido, informa a Folha, quando disse que, ao votar pela cassação da chapa, pensou no bem do país… Vai ver que os "empresários" presentes querem o PT de volta ao poder.

É um despropósito que Fux fique criticando o voto de seus pares. Segundo ele, o TSE recorreu a um artifício ao excluir depoimentos dos ex-diretores da Odebrecht e de João Santana. Uma ova! A Constituição confere prazo tão curto, no Parágrafo 10 do Artigo 14, para o ajuizamento de uma ação de impugnação justamente porque o eleito não pode ficar no eterno limbo.

Artifício seria aceitar como prova o que provado não está na esfera penal.

Mas este é Luiz Fux, o homem que admitiu, em entrevista a Mônica Bergamo, que, quando candidato ao Supremo, foi bater às portas do réu José Dirceu.

Reproduzo trechos. Integra está aqui.

ENCONTRO COM DIRCEU

Para Dirceu, também era a hora do tudo ou nada.

Ele aguardava o julgamento do mensalão. O ministro a ser indicado para o STF, nos estertores do governo Lula, poderia ser o voto chave da tão sonhada absolvição.

A escolha era crucial.

Fux diz que, no encontro com Dirceu, nada disso foi tratado. Ele fez o seguinte relato à Folha:

Luiz Fux -Eu levei o meu currículo e pedi que ele [Dirceu] levasse ao Lula. Só isso.

Folha – Ele não falou nada [do mensalão]?

Ele falou da vida dele, que tava se sentindo… em outros processos a que respondia…

Tipo perseguido?

É, um perseguido e tal. E eu disse: "Não, se isso o que você está dizendo [que é inocente] tem procedência, você vai um dia se erguer". Uma palavra, assim, de conforto, que você fala para uma pessoa que está se lamentando.

"MATO NO PEITO"

Dirceu e outros réus tiveram entendimento diferente. Passaram a acreditar que Fux votaria com eles.

Uma expressão usual do ministro, "mato no peito", foi interpretada como promessa de que ele os absolveria.

Fux nega ter dado qualquer garantia aos mensaleiros.

Ele diz que, já no governo Dilma Rousseff, no começo de 2011, ainda em campanha para o STF (Lula acabou deixando a escolha para a sucessora), levou seu currículo ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na conversa, pode ter dito "mato no peito".

Folha – Cardozo não perguntou sobre o mensalão?

Não. Ele perguntou como era o meu perfil. Havia causas importantes no Supremo para desempatar: a Ficha Limpa, [a extradição de Cesare] Battisti. Aí eu disse: "Bom, eu sou juiz de carreira, eu mato no peito". Em casos difíceis, juiz de carreira mata no peito porque tem experiência.

Encerro
Aquele que votaria contra a cassação se tornou um fanático do contrário por quê? Prometeu, mais uma vez, matar alguma bola no peito?

 

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.