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Reinaldo Azevedo

Lula condenado 2: Na questão eleitoral, o nome de Moro está tão queimado como o do petista

Reinaldo Azevedo

04/12/2017 13h27

 

Juiz Sérgio Moro: será ele uma unanimidade? Essa gente trabalhou tão bem que nem escapam da guilhotina…

O recurso de Lula no TRF4 deve ser julgado com celeridade inédita. É o processo mais rápido da história a ter chegado em segunda instância. Isso servirá para alimentar a narrativa petista de que tudo não passa de uma armação para tirá-lo da Eleição. É claro que se trata de uma bobagem, né? Até os petistas estão surpresos com o desempenho do "companheiro-chefe" nas urnas. A aposta era a de que seria maior a demora para resgatar o nome dos escombros. Ocorre que o MPF, Rodrigo Janot em particular, ajudou a tirar Lula do buraco.

As pesquisas indicam a consolidação do ex-presidente como primeiro colocado no primeiro turno. Também venceria todos os seus potenciais adversários no segundo. Se for condenado antes da eleição, e vai ser, é claro que tudo muda no quadro sucessório.

Daqui a pouco vou falar de pesquisas. Mas há uma questão política que independe de índices. Os institutos, hoje, testam alternativas petistas ao nome de Lula. Os números não são nada animadores. Quando se tenta saber qual seu potencial de transferência de votos — isto é: eleitores que escolheriam quem ele indicasse —, a verdade, como direi?, constrangedora é que Lula aparece bem na fita. Querem ver?

Votariam com certeza num candidato indicado pelo petista 29%. É um número gigantesco. E outros 21% poderiam fazê-lo. E 48% dizem que, tendo o apoio do petista, eles não votam de jeito nenhum. Parece muito? Pois é: acontece que isso é apenas três pontos percentuais acima da marca do juiz Sérgio Moro: sim, senhores! 45% dos eleitores dizem que não votariam de jeito nenhum em alguém que tivesse o apoio do juiz. Dizem que rejeitariam uma indicação de FHC 62%; no caso de Michel Temer, esse índice é de 87%.

Não vou me ater à questão da rejeição neste post, que tem outro desiderato. Notem: estou partindo do pressuposto, que me parece certo, de que Lula não vai se candidatar porque a Justiça não permitirá.

Ora, todos terão de repensar suas estratégias. Com Lula podendo concorrer, seu potencial de transferência de votos é grande — 50%; outros 48% rejeitariam tal indicação. Muito bem: é o que temos hoje. Mas como será quando o PT sair batendo bumbo por aí, acusando o suposto tapetão judicial de ter tirado Lula da disputa? E se ele for preso? Ajuda ou atrapalha a causa petista? Minha hipótese: ajuda.

Os nomes testados pelo Datafolha quando se descarta o chefão obtêm uma alta rejeição: 61% recusariam Fernando Haddad, e 63% rejeitariam Jaques Wagner. Números contraditórios? Não! A rejeição a esses dois, nesse nível, indica apenas que são pouco conhecidos.

Os votos neste próximo pleito estarão bastante divididos. É grande a chance, dados os números, de um ungido de Lula estar no segundo turno. E notem: eu não dou muita bola para o fato de 29% dizerem que votariam em quem Lula indicasse; eu não dou muita bola para o fato de que outros 21% poderiam fazê-lo; eu não dou bola para os 48% que não aceitariam uma indicação do Poderoso Chefão.

O número realmente espantoso é haver 45% que não aceitam de jeito nenhum um nome apoiado por… Sérgio Moro.

Convenham: Lula e os demais políticos estão no centro do ringue, tomando porrada há quase quatro anos. Sérgio Moro, em breve, começa a fazer milagres. Já defendi que seja o primeiro santo em vida da Igreja Católica: São Sergio Morus… A gente latiniza o sobrenome, como aconteceu com Thomas More.

A página no Facebook "Eu moro com ele", mantida por sua mulher, ultrapassa 800 mil likes e não há por que diminuir a devoção. Pensem: se o potencial de transferência de voto de Lula é de 50%, se a rejeição a um nome apoiado por Moro, 45%, e dado que eles estão como o Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro, é óbvio que se deve considerar que o ungido por Lula tem quase certo o seu lugar no segundo turno.

E quem disputará com essa pessoa, seja ela quem for?

Vai se falar muito a respeito do assunto aqui.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.