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Reinaldo Azevedo

Minha coluna na Folha desta sexta: Rodrigo Janot tornou-se o tatuador-geral da República

Reinaldo Azevedo

16/06/2017 08h25

Leiam trechos da minha coluna na Folha desta sexta:

"Eu sou ladrão e vacilão".

O adolescente que teve a testa marcada por homens comuns, que se querem – e devem ser – honrados, traduz aquilo que, como sociedade, fizemos do que fizeram de nós.

Nem a vítima nem seus algozes sabiam que ali estava um emblema destes dias. Quando um historiador decidir esmiuçar o Zeitgeist, o espírito deste tempo, há de se debruçar sobre esse evento aparentemente irrelevante para concluir que ele revela uma mentalidade, plasmada, sim, pelas vicissitudes do cotidiano, pela vida e seu ofício, pelas dificuldades que todos experimentamos, afinal, na própria pele. Mas não só isso. Todos temos também um juízo de valor sobre o poder, seus agentes e o bem ou mal que nos fazem.

Aquele historiador há de proceder como o norte-americano Robert Darnton no excelente "O Grande Massacre de Gatos e Outros Episódios da História Cultural Francesa". Em seis capítulos, ele expõe o modo de pensar da França do Século 18, na passagem do Antigo para o Novo Regime, por intermédio da análise de narrativas populares. Uma delas trata de um episódio ocorrido ali por 1730. Operários de uma tipografia da rua Saint-Séverin, em Paris, resolvem matar todos os gatos da vizinhança. Na origem do massacre, a revolta contra o patrão e as aviltantes condições de trabalho. A matança começou por "La Grise", a gata predileta da mulher do seu algoz.

Seria então o massacre mera metáfora da revolta do trabalho contra o capital? Darnton vai além dessa facilidade. Os gatos já não gozavam de boa reputação – trariam algo de maligno. Havia a tradição de torturá-los no Carnaval e outras festividades. O ódio episódico desencadeou a matança, mas esta não teria acontecido sem um lastro cultural.

Aquele acusado de ser um "ladrão de bicicleta" teve, segundo rosnou a extrema-direita nas redes sociais, o merecido tratamento. A extrema-esquerda não chegou a transformá-lo num herói, mas ensaiou o discurso das iniquidades sociais, o que é factualmente falso.
(…)
Então não é isso o que vem fazendo dia após dia, com a nossa – da imprensa – diligente colaboração, o MPF? Todos os políticos, de todas as tendências e matizes, trazem na testa "Eu sou ladrão e vacilão".
(…)
Íntegra aqui

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.