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Reinaldo Azevedo

Moscas azuis sobre Maia. Se Temer cair, “Diretas-Já” ganhará as ruas, e o PT vai aplaudir de pé!

Reinaldo Azevedo

06/07/2017 06h27

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou o dia de ontem cercado de moscas azuis. E elas o picavam aqui, ali, acolá… Gente que acompanhou o cerco de perto e as conversas de corredor a que tive acesso me fizeram pensar na "performance sedutora" dos diabos das peças de Gil Vicente ou Padre Anchieta. São canhestros, desastrados, até divertidos na sua parvoíce.

E o que os capetas de segunda grandeza queriam ontem com Maia? Ora, direta ou indiretamente, muitos lhe fizeram o convite para que entregasse o presidente Michel Temer em domicílio, como um motoboy a levar uma pizza ao diretório do PT, e buscasse articular a sua própria ascensão à Presidência pelo Colégio Eleitoral.

O que isso quereria dizer na prática? Na narrativa de corredores, que me parece aloprada, o relator da denúncia contra Temer na CCJ da Câmara, Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), considerado próximo do presidente da Casa, faria um relatório recomendando a continuidade do processo. Tal texto seria aprovado por maioria simples na CCJ, e isso ensejaria um desembarque em massa da base aliada, com os tucanos atuando como VRU: Vanguarda do Retrocesso dos Urubus.

Virtude da lealdade
Maia tem, até onde se sabe, a virtude da lealdade. E, por obséquio, ninguém me venha com citações de segunda e verborragia de terceira na linha: "Prefiro ser fiel a meu país a ser fiel a meus aliados". Isso costuma ser conversa de traidores e vigaristas. Rodrigo Maia pertence à base do governo e é aliado de primeira hora de Temer.

Há mais: ele próprio é investigado em dois inquéritos na Lava Jato, acusado por delatores da Odebrecht. Um relatório da PF sugere uma terceira investigação — no caso, ligada à OAS. Não entrarei agora em minudências, mas todas as acusações me parecem inconsistentes.

Silêncio ambíguo
Conversando com pessoas que dizem ter conversado com Rodrigo Maia — e ouvi o mesmo de várias fontes —, fiquei com a impressão de que o presidente da Câmara não deixou suficientemente claro que não ambiciona o lugar de Temer. Muita gente saiu com a convicção, que considero, em princípio, erro de interpretação, de que o presidente da Câmara não rejeita a ideia.

Bem, o meu conselho? Que fale com mais clareza quem é seu candidato a concluir o mandato, desautorizando especulações doidivanas, vindas até da esquerda. Ontem à noite, Lula afirmou, num evento com petistas, que os companheiros não devem se conformar com a possibilidade de que Maia substitua Temer. Segundo o chefão do partido, todos são golpistas. Ele quer eleições diretas.

Procurei, sim, o presidente Temer. Não consegui falar pessoalmente com ele. Por intermédio da assessoria, mandou dizer que considera "Rodrigo Maia um aliado fiel, correto, cumpridor de seus deveres na Câmara". O presidente disse não esperar do deputado nenhum favor especial porque não é assim que se relaciona com aliados.

Não seguraria
Rodrigo já demonstrou lealdade política à base que integra e está longe de ser burro. Sabe que um presidente indireto, nas atuais circunstâncias, dificilmente se sustentaria no cargo. A reforma da Previdência iria para o vinagre. Teria início um ciclo infernal de instabilidade.

Mais: nem mesmo o ritual dessa eleição está definido. Reza o Artigo 80 da Constituição que o presidente da Câmara é o terceiro na hierarquia de poder: impedidos titular e vice, é ele quem assume. Mas só por um tempo. O Parágrafo 1º do Artigo 81 estabelece que, ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei."

Pois é… Há uma lei a definir. É evidente que Rodrigo Maia não poderia comandar o país interinamente e, ao mesmo tempo, articular a própria eleição.

De resto, o ministro Moreira Franco, um dos alvos prediletos da Lava Jato, é sogro de Rodrigo — na verdade, a mulher do deputado é enteada do ministro. Brasília anda tão ruim da cabeça que havia ontem até quem assegurasse que um acordo tácito de Rodrigo com o MPF passaria pela degola de Temer e pela proteção a Moreira.

Prefiro descartar as teorias conspiratórias e me ancorar numa certeza: Maia não é tonto e não parece disposto a servir de boi de piranha.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.