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Reinaldo Azevedo

O truque de Janot. Se Batistas não contarem o que sabem de Janot e Miller, mofarão na cadeia

Reinaldo Azevedo

14/09/2017 16h50

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que vive situação desesperadora — está nas mãos do ex-procurador Marcelo Miller —, resolveu jogar sua última cartada para ver se consegue recuperar parte, ao menos, do prestígio perdido pela Lava Jato. Também precisa restaurar a fama de moralizador que setores da imprensa lhe atribuíam. E como fazê-lo? Ele teve uma ideia, o que sempre recomenda cuidado:  decidiu revogar a imunidade penal de Joesley, Wesley, Ricardo Saud e o resto da quadrilha. Ah… E vai executar uma última manobra que deve julgar de gênio: incluir Joesley Batista na nova denúncia que vai oferecer contra Michel Temer.

Entenderam o exercício do nosso malabarista de circo mambembe? Então vamos ver: a Lava Jato chegou a ser considerada por muitos, especialmente por aqueles que se alinham mais ao campo conservador, como o Santo Graal do combate à corrupção no Brasil, certo? A laranja do mundo se dividia em duas metades: haveria a podre, onde habitavam os políticos de todos os partidos, e a saudável, onde estavam o Ministério Público Federal, Janot incluído, o juiz Sérgio Moro e a Força Tarefa de Curitiba.

Aí veio o acordo de delação da turma da JBS. Antes que se conhecessem seus termos, uma máquina muito bem azeitada de deposição do presidente Michel Temer vazou suposto conteúdo de conversa entre Temer e Joesley Batista. Segundo o que se espalhou — e isto não estava na gravação —, o chefe do Executivo autorizara a compra do silêncio de Eduardo Cunha. Fez parte do pacote a armação contra Aécio Neves. Era para ser uma blitzkrieg, uma ação fulminante. O objetivo era levar o presidente à renúncia em uma semana, como pediu editorial de "O Globo".

A renúncia não veio, e a população ficou sabendo o que Janot havia cedido à turma da JBS. A Lava Jato, pelas mãos do procurador-geral, caía em desgraça. Houve aqueles que, como este escriba, apontaram, desde o começo, as óbvias ilegalidades da operação. Mas quê… Direita e esquerda urravam, do fundo de sua mais profunda ignorância, contra qualquer apelo ao bom senso. Afirmar que tudo tinha cheiro óbvio de flagrante armado era considerado um pecado.

Pois é… Uma simples perícia feita pela PF no gravador de Joesley, a pedido da defesa de Temer, abriu a Caixa de Pandora. Lá estavam arquivos apagados, que foram recuperados. Joesley, com receio de perder benefícios da delação, resolveu entregar outros, incluindo o que seguiu por engano, onde se confessava parte do plano e da armação, que trazia Marcelo Miller como um de seus protagonistas.

Janot ainda tentou uma saída. Em vez de surpreender os bandidos com uma ação fulminante, que incluísse prisão preventiva e mandado de busca de apreensão, optou por uma entrevista coletiva no dia 4. Anunciou as possíveis falcatruas e deu tempo aos suspeitos de, se preciso, eliminar provas. Prisão meramente temporária só foi pedida no dia 8. Mandado de busca e apreensão só foi expedido no dia 11. Edson Fachin resolveu quebrar um galho para Janot: rejeitou a prisão de Miller, aquele que está a um passo de acusar o procurador-geral de comandar a cadeia de ilegalidades que resultou na denúncia contra Temer.

A reputação da Lava Jato tende a se degradar ainda mais. Tanto é assim que os midiáticos Deltan Dallagnol e Carlos Fernando desapareceram. Estão mudos.

Então Janot resolveu ter sua última grande ideia. Para demonstrar que é um homem isento e um mero soldado da lei, decide revogar a imunidade dos bandidos mais premiados da história e denunciar ao menos um deles junto com o presidente da República.

É truque canhestro. Explico rapidamente. A denúncia contra o presidente segue o ritual: CCJ e plenário, onde precisaria de dois terços para seguir para arbítrio do STF. Não haverá esse número. Sem o presidente, parece que será difícil ligar Joesley aos demais políticos com foro especial. O mais provável é que o homem siga para a primeira instância, de onde poderá vislumbrar uma condenação da pesada.

Parece que não resta aos irmãos Batista outra saída que não contar tudo o que sabem sobre Janot e Marcelo Miller. Quem sabe uma delação premiada do ex-procurador não ajude a pôr uma pouco de ordem naquela que já foi a Casa do Pai Janot…

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.