OS SONÂMBULOS-1: TRF4 marca para o dia 24/01 julgamento cujo resultado deve impedir Lula de se candidatar à Presidência
Os togados estão brincando com fogo no Brasil. A Lava Jato lhes conferiu o perigoso senso da onipotência. A aberração da hora — e já explico por que escolho essa palavra — diz respeito à marcação, pelo TRF 4, da data do julgamento do recurso de Lula contra a condenação que lhe impôs em primeira instância o juiz Sérgio Moro: nove anos e meio de cadeia. Há muita coisa a dizer a respeito. Inclusive a respeito dos desatinos que tomam conta do país. A data é 24 de janeiro de 2018. Permitam-me uma digressão antes que avance.
Citei aqui dia desses, a propósito de outro assunto, o livro "Os Sonâmbulos", de Christopher Clark, que explica, ou tenta explicar, como eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Por que "sonâmbulos"? Porque todas as figuras que tinham graves responsabilidades na manutenção da paz acabaram atuando — por cálculo errado, estupidez ou vaidade — em favor da guerra. E se viu uma carnificina inédita até então. Não havia um fator, mas um conjunto deles. Não havia um responsável, mas um conjunto deles. Não havia um desatino, mas um conjunto deles. Era como se um destino se desenhasse nas trevas, contra o qual toda ação se mostrava, como se mostrou, inútil.
É claro que o exemplo vai ao limite. É que ele me parece emblemático desses momentos em que a única coisa inconveniente é a razão. Todos estão acelerados demais para prestar atenção a detalhes e calcular os desdobramentos futuros de seus atos presentes.
Atenção! Caso se conclua o julgamento do recurso no dia 24 de janeiro, terá sido, considerando-se os dias corridos desde a condenação determinada pela primeira instância, a decisão mais rápida tomada pelo TRF4 em casos envolvendo o petrolão — e é provável que seja a mais célere da história daquele tribunal.
E isso basta para que se diga: "Assim não pode ser!" E olhem que não estou desconfiando da honestidade dos senhores desembargadores. Mas eles são a mulher de César no jogo das aparências e essências: não basta que sejam honestos e imparciais. Eles também têm de parecer honestos e imparciais. Ou as instituições é que pagam o pato.
O que estão querendo os senhores desembargadores? Conferir verossimilhança, ares de verdade, à mistificação alimentada pelo PT, segundo a qual os processos contra Lula não passam de uma conspiração de excepcionalidades contra o partido e seu líder maior?
Com a devida vênia, o conjunto da obra indica uma leitura absolutamente incompetente da realidade dos fatos. E não! NÃO ESTOU PEDINDO QUE O TRIBUNAL ABRA UMA EXCEÇÃO PARA QUEBRAR O GALHO DE LULA. Estou é justamente cobrando que não abra. Vem mais a respeito.