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Reinaldo Azevedo

PT não nega sua natureza, mas faz defesa correta da instituição no caso Aécio. Já o PSDB...

Reinaldo Azevedo

27/09/2017 22h32

O PT é o PT, não tem como negar a sua natureza, como veremos, mas, no que diz respeito à absurda decisão da 1ª turma do STF, que impôs o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de seu mandato, o partido tomou uma decisão essencialmente correta, ainda que sua nota traga um amontoado de mistificações. Sim, trata-se de uma decisão correta e, se querem saber, obviamente mais corajosa do que a do PSDB.

Às 21h45, quando escrevo, o repúdio à decisão do PT está em destaque — desde as 18h17. Vejam.

O PSDB é superior demais para se dedicar a essas contingências da institucionalidade. Em sua página, não se lê uma vírgula a respeito. Prefere tratar de temas mais quentes como a filiação de um senador à sigla, um projeto sobre Mal de Parkinson (importante, claro!), outro sobre fundos para a economia criativa… Vejam.

Volto à nota do PT. Sim, claro!, o partido esculhamba o presidente licenciado do PSDB, acusa-o de ser um dos responsáveis por todos os males do Brasil e de ser uma das lideranças do "golpe". Reproduzo um trecho:

Aécio Neves é um dos maiores responsáveis pela crise política e econômica do país e pela desestabilização da democracia brasileira.
(…)
Para consumar seus objetivos políticos, rasgaram a Constituição e estimularam a ação político-partidária ilegal de setores do Judiciário e do Ministério Público.
Aplaudiram todas as arbitrariedades cometidas contra lideranças do PT e dos setores populares, as violações ao devido processo legal e ao estado de direito democrático.
Compactuaram com o processo de judicialização da política, que visou essencialmente a fragilizar os poderes eleitos pelo povo.
As repetidas violações ao direito criaram um monstro institucional que tem como cérebro a mídia, comandada pela Rede Globo, e tem como braços os setores do MP e do Judiciário que muitas vezes acusam, punem ou perdoam por critérios políticos.
Aécio Neves defronta-se hoje com o monstro que ajudou a criar.
(…)

Bem, meus caros, nada que não faça justiça a bobagens que o petismo habitualmente diz. A nota chega a sustentar que a recessão e o desemprego são obras do governo Temer, apoiado por Aécio. E claro, a legenda insiste em pôr a "mídia" como o cérebro de um MPF destrambelhado. Ainda não percebeu que a imprensa é hoje dependente dos senhores procuradores e suas heterodoxias.

Mas há um trecho lá que pode ser assinado por qualquer pessoa de bom senso, a saber:

(…)
Mas a resposta da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal a este anseio de Justiça foi uma condenação esdrúxula, sem previsão constitucional, que não pode ser aceita por um poder soberano como é o Senado Federal.
Não existe a figura do afastamento do mandato por determinação judicial. A decisão de ontem é mais um sintoma da hipertrofia do Judiciário, que vem se estabelecendo como um poder acima dos demais e, em alguns casos, até mesmo acima da Constituição.
O Senado Federal precisa repelir essa violação de sua autonomia, sob pena de fragilizar ainda mais as instituições oriundas do voto popular.
(…)

Em seguida, o partido pede que Aécio seja levado ao Conselho de Ética do Senado etc. e tal. Afinal, é o PT, né? Dizer o quê?

O que me interessa, em meio às barbaridades, é a questão institucional. E a defesa que vai acima é correta. O que pensa o PSDB como partido? Bem, Ricardo Trípoli (SP), por exemplo, líder do partido na Câmara, concedeu uma entrevista a um blog pisando na cabeça de Aécio e aproveitando, na passagem para atacar o governo Temer.

Como já destaquei aqui, o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), senador licenciado da legenda,  teve uma atitude digna.

Será que eu esperava do PSDB o comportamento que têm os petistas em relação aos seus?

Bem, trato disso no post seguinte.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.