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Reinaldo Azevedo

Se vídeo com Funaro tivesse algo relevante, Janot o teria incluído na patética denúncia, certo?

Reinaldo Azevedo

14/10/2017 06h10

É claro que é tudo muito impressionante.

Naquela primeira semana em que vazou o diálogo que não existiu entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista, a quase unanimidade dos jornalistas decretou o fim do presidente. E, no entanto, ele está aí, no comando de um país que já volta a crescer. Mas a política vive dias de terra arrasada.

Lembram-se? Detalhes vinham a público da delação de Joesley Batista, e mais escandalizado ficava o país. Ai daqueles que ousassem opor óbices aos métodos de doutor Rodrigo Janot. Sei o que me custou a crítica àquele patriota. Agora está claro: a delação do açougueiro multibilionário, um medalhão do mundo dos negócios, reunia uma impressionante coleção de crimes e canalhices.

Não restou nada da segunda denúncia de Janot depois da defesa apresentada por Eduardo Carnelós, advogado de Temer, e do relatório de Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Até a oposição ficou constrangida. Bem, então era preciso fazer alguma coisa.

Setores do Ministério Púbico Federal que certamente não aceitam se submeter à disciplina de Raquel Dodge resolveram pôr para circular vídeo com um dos depoimentos que compõem a delação de Lúcio Funaro. Notem: ficamos sabendo como são feitas as salsichas quando o delator é um dos maiores empresários do mundo. Dá para imaginar como se deu a de um escroque confesso como Funaro.

É estupefaciente que se possa dar crédito a um sujeito com a sua trajetória, especialmente quando Janot anunciou a quem quisesse ouvir que havia aberto uma espécie de licitação pública entre ele e Eduardo Cunha: ganhava o direito à delação aquele que atingisse com mais dureza o presidente da República. E Funaro levou o troféu. A coisa é tão constrangedora que ele aproveita para fazer acusações novas contra o ex-deputado, o concorrente.

Volta à baila uma acusação antiga contra José Yunes, ex-assessor de Temer. Funaro diz ainda que o presidente atuou em favor de empresas portuárias. E como ele sabe? Ora, segundo diz, foi Cunha quem lhe contou. Sim, Cunha é aquele em quem ele se ancora ao fazer as acusações, mas também um de seus alvos.

Notem: esse vídeo traz o material que Janot usou para fazer a denúncia contra o presidente. Quem lê a dita-cuja não encontra lá uma única prova. Tem-se apenas a palavra dos delatores — além do próprio Funaro, também Joesley e outros da JBS. O que a peça acrescenta ao caso? Nada. Seu vazamento serve apenas ao propósito de escandalizar. Houvesse lá algo de relevante, o ex-procurador-geral o teria empregado em sua denúncia patética.

Vamos ver até quando aceitamos ficar reféns de bandidos sob o pretexto de combater a corrupção.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.