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Reinaldo Azevedo

Temer e o futuro: alguma reforma da Previdência, um candidato governista (?) e Maia mais magro

Reinaldo Azevedo

25/10/2017 08h55

Mas como fica a governabilidade a partir de quinta-feira, depois que a Câmara derrubar, nesta quarta, a denúncia contra o presidente Michel Temer? É certo que não estará celebrada a paz. Mas a ausência de guerra já será uma grande notícia. É preciso desfazer alguns mitos. O presidente vai tentar, sim, aprovar a reforma da Previdência. Qual? Alguma. Ainda que bastante mitigada, será um resultado apreciável se conseguir, por exemplo, a idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 para homens. A reforma é essencial para o futuro do Brasil, sim, mas é uma balela que, sem ela, o governo naufraga, e o país mergulha no caos. Não haverá caos nenhum. Mas estaremos condenados à mediocridade enquanto não for feita.

A recuperação da economia, que está em curso, não será interrompida de imediato. Reitero: considero a reforma vital para o país, mas não para este governo. Sejamos realistas: estamos entrando em ritmo de fim de ano, e, acho, em 2018, não se mexe mais com esse assunto. O tempo é um dado essencial da realidade. Se há sete, oito meses, estivesse claro que a reforma da Previdência se afigurava quase impossível, a instabilidade seria grande. Agora, não. Algumas apostas já foram feitas. Quem comprou a moeda podre da queda do governo, apostando que ela se valorizaria em razão de conspiratas, fofocas e flechas de bambu, bem, esses quebraram a cara. Que cobrem a fatura dos corretores do caos.

O presidente tem de continuar a falar na reforma e a defendê-la com energia, mas que não mova uma palha para conquistar votos que não sejam os de consciência. Se não sair, que fique evidente que é por falta de empenho dos senhores parlamentares, não do Palácio.

Outro efeito positivo da permanência de Temer — e, para tanto, pouco importa o placar — é o emagrecimento político, este ao menos, de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que passou a falar a língua franca da chantagem. Tentou, sim, tomar a faixa presidencial em julho. Foi malsucedido. Previu que o governo teria mais dificuldades com a segunda denúncia. No meio do caminho, apareceram os sortilégios de Rodrigo Janot, Joesley, Marcelo Miller e cia. Isso empurrava para o descrédito a nova ficção da PGR. Então Maia deu um jeito de fazer com que suas previsões se realizassem, criando dificuldades artificiais para tentar vender facilidades.

O comandante da Câmara continua poderoso porque o cargo lhe confere tal condição. Mas uma coisa é a força que tem o chefe da Casa; outra, muito distinta, é a de que dispõe alguém que pode ficar cabalando votos contra o presidente, não tendo pejo nenhum de fazer ameaças. Ele sabe que sua reputação entrou em declínio também junto aos tais "mercados", que tomava como seus interlocutores privilegiados. De algumas das cabeças coroadas, eu mesmo ouvi avaliações nada lisonjeiras. A mais dura: "Esse rapaz (sic) parecia mais responsável. Resolveu brincar com gasolina em meio ao incêndio só para mostrar que é hábil e poderoso. Isso explica que tenha começado a carreira no mercado e esteja na política. Ele esqueceu o significado da palavra 'previsibilidade'. E, ao contrário do que se acreditava, ele é imprevisível." Quem disse? Maia pode chutar. Também pode achar que acabei de tirar essas palavras da cachola.

Mas ele sabe que não. Tanto é assim que, na sua mais recente investida, resolveu tomar se não a faixa presidencial, a caneta das mãos de Temer. Seus valentes lançaram a cascata, risível em si, de que ele deveria ser uma espécie de "CEO" do governo, um primeiro-ministro, calculem. O presidente lhe entregaria as chaves, e ele iria à luta em busca dos 308 votos para a reforma da Previdência. Se o estável Temer não logra tal intento com facilidade, por que o faria aquele que declara a jornalistas que, em política, não existem "amiguinhos", muito menos "para sempre"? É verdade. A conspiração, na concorrência com a amizade, ainda leva vantagem. E o povo costuma pagar o pato.

Espero que o presidente Temer, com efeito, se dedique à reforma da Previdência. Em seu lugar, e eu jamais seria político, convidaria as lideranças todas, de todos os partidos, para debater o tema com o palácio de portas abertas, inclusive para a imprensa. Que cada um diga o seu preço para não ferrar o Brasil. E não pararia por aí. Ainda que os ouvintes leitores passem a achar que estou a delirar, eu começaria, sim, a construir uma candidatura à Presidência da República inequivocamente governista.

O caos passará a remunerar cada vez menos os especuladores. Erra, anotem aí, quem achar que o governo chega a meados no ano que vem com a reputação ruim de agora. Temer tem de pensar que esta segunda jornada o mergulhou no Rio da Morte. E nem o calcanhar ficou de fora. Tem agora é de se sentir livre para governar, reforçando os laços da institucionalidade e mandando os chantagistas às favas.

Acreditem: é crescente o sentimento de que também os que buscam explorar as fragilidades do governo estão pensando apenas nos próprios interesses. Querem apostar?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.