Topo

Reinaldo Azevedo

Villela, acusado por Janot, diz que alvos de ex-chefe eram depor Temer e barrar Raquel, a 'bruxa'

Reinaldo Azevedo

18/09/2017 07h21

Ângelo Goulart Villela um duro golpe contra Rodrigo Janot (Foto: Luis Macedo/Agencia Câmara

Rodrigo Janot atuou de forma deliberada para depor o presidente Michel Temer e evitar a ascensão de Raquel Dodge, a quem chamava de "bruxa", à PGR. Quem diz isso? O procurador Ângelo Goulart Villela. Vamos ver.

Esta segunda-feira marca o dia em que o Brasil se livrou de Janot, mas há sinais de que o ex-procurador-geral não vai se livrar tão facilmente de sua obra. O Supremo tem decisões importantes a tomar. Ainda voltarei ao ponto. É claro que a tramitação da nova denúncia contra o presidente Michel Temer tem de ser suspensa. Ou o tribunal põe ordem na casa, bagunçada por Janot, ou se torna sócio da zorra, como defende, por exemplo, um Luiz Fux, na celerada entrevista ao Estadão de sábado. Mas também isso ficará para outro post. Por que isso tudo? Villela joga uma flecha que pode ter atingido o coração do ex-flecheiro-geral da República

A Folha de hoje traz a entrevista com o procurador que acabou preso no curso do acordo de delação premiada da cúpula da JBS. Alvo da Operação Patmos, de 18 de maio, ele foi denunciado por corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução de Justiça. Em sua delação, Joesley — vocês sabem: aquele homem que só fala a verdade — afirma que o procurador recebia uma pensão de R$ 50 mil mensais para passar informações sigilosas sobre a investigação. Villela nega as acusações.

O procurador afirma com toda as letras que o objetivo de Janot era mesmo derrubar Temer. E a questão principal, nessa determinação, era impedir que Raquel, uma desafeta, fosse sucedê-lo no cargo. Com outro titular na Presidência, isso, segundo a avalição de Janot, não aconteceria.

Só para que saibam: antes de toda a patuscada que resultou na tentativa de deposição de Temer, Janot esteve com o presidente e chegou a defender que o chefe do Executivo ignorasse a eleição feita pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Ora vejam: ele próprio, Janot, era fruto desse processo eleitoral — que, com efeito, não tem prescrição legal. E por que agia assim? Porque era o candidato à própria sucessão; queria um terceiro mandato. E percebeu que isso não seria possível.

Diz o procurador Villela:
O Rodrigo quis usar uma flecha para obter duas vitórias. A gente sabia que Raquel seria a pessoa indicada. Eu fui tachado por Rodrigo como se tivesse me bandeado para o lado dela. Esse era um alvo da flecha. O outro era que, derrubando o presidente, e até o nome da operação era nesse sentido –Patmos, prenúncio do apocalipse–, ele impediria que Temer indicasse Raquel. (…) Ele tinha pressa e precisava derrubar o presidente. Ele tinha mais cinco meses de mandato, e faz, então, um acordo extremamente vantajoso ao Joesley, de imunidade (…). Essa pressa, para ficar mascarada, vem com um discurso de que a atuação imparcial de que estava cortando da própria carne. Ele me coloca ali como bode expiatório e me rifa. Nem quis me ouvir. Fui preso com base em declarações contraditórias de dois delatores, em uma pseudoação controlada.

E ainda sobre a determinação de Janot de impedir a ascensão de Raquel e de derrubar Temer, afirma Villela:
No Encontro Nacional de Procuradores da República, em outubro do ano passado, início de novembro, o Janot soltou uma frase que me chamou a atenção. Estávamos eu e mais alguns colegas, poucos, e ele falou: "A minha caneta pode não fazer meu sucessor, mas ainda tem tinta suficiente para que eu consiga vetar um nome". E ele falava de Raquel, todo mundo sabia.

Como, leitor? Você não acredita na palavra de pessoas que estão sob investigação, como Villela? Bem, a ser assim, então seria preciso pôr fim à Lava Jato? Ou não são investigados todos os delatores?

Não! Não estou aqui a defender que se tome a palavra do sr. Villela como a voz da verdade. Não sou Janot. Mas é claro que se adensam as suspeitas de que o acordo com a cúpula da JBS, a denúncia contra Temer, as operações que marcaram toda essa lambança vão assumindo contornos de verdadeira, esta sim, organização criminosa.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.