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Reinaldo Azevedo

Violência no NE disparou no auge do crescimento; caos no Rio vem de Cabral, não da recessão

Reinaldo Azevedo

31/10/2017 07h16

Ter memória, caros leitores, pode ter lá seu lado chato, né? Afinal, aumenta a chance de se perceberem as besteiras solenes que são ditas. Mas há também a parte boa: só se come gato por lebre se for do gosto do vivente. Saíram os dados do 11º Anuário Estatístico da Violência, a cargo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Sim, há um novo recorde de mortes: 61.169. O estado de São Paulo é o que menos mata: 11 por 100 mil habitantes; Sergipe, o que mata mais: 64. Vejam as tabelas publicadas  neste blog. E, claro!, a esquerdopatia pátria já começou a espalhar a falácia de que a recessão econômica, a crise, o desemprego e afins estão na raiz do aumento da violência. De 2015 para 2016, houve uma elevação de 4,7% no número de ocorrências.

Bem, meus queridos, dizer o quê? Este é um dos fetiches de todo esquerdista "moderno". Esses são os que se querem os realistas. Os idealistas já acham que a carência produz revolucionários. Que grupo está certo? Obviamente, nem um nem outro. É bem verdade que a pobreza, a desordem urbana, as áreas clandestinas de exploração mineral, as fronteiras desguarnecidas etc. não são as melhores conselheiras dos varões de Plutarco. São fatores que interferem, sim, na violência. Mas a causa é outra: desídia do Estado — e dos Estados — na formulação e aplicação de políticas públicas. Vejam o Rio: até outro dia, Sérgio Cabral era quase tão popular como Alessandro Molon em certos noticiários. As contas do Rio foram à breca, e a violência explodiu. Culpa da crise econômica? Não! Culpa da desordem administrativa que o valente deixou como herança. E eu dividiria a responsabilidade com aquela parte da imprensa que lhe ficou puxando o saco por pelo menos seis anos.

E a memória? Ah, bem, a memória entra para trazer algumas coisas à baila. Há um outro conjunto de dados muito respeitado na área de segurança pública. É o chamado Mapa da Violência. Em 2011, foram publicados dados com a taxa de homicídios entre 1998 e 2008. O período compreende os anos de ouro do crescimento da economia da era lulista. E todos nos lembramos de que o Nordeste cresceu mais do que o restante do país. O período abarca o segundo mandato de FHC, quando recessão não houve. Já estava em curso havia mais de cinco anos o Bolsa Família — que, como se sabe, atende muito especialmente a região porque esta concentra os mais numerosos bolsões de pobreza. E eis, então, que os dados desmoralizam a tese esquerdopata. Dados os nove estados nordestinos, com seu crescimento fabuloso, a taxa de homicídios só havia caído na Paraíba naqueles 10 anos: – 13,8%. Nas demais unidades, tinha havido crescimento estupefaciente, a saber:
– Maranhão: 297%
– Bahia: 237,5%
– Alagoas: 177,2%
– Sergipe: 174,8%
– Rio Grande do Norte: 172,8%
– Piauí: 139,9%
– Pernambuco: 101,5%
– Ceará: 79,1%

O Mapa da Violência havia constatado, então, que, em 10 anos, a taxa estava praticamente estável — e notem que já era alta pra diabo: de 25,9% em 1998; chegou ao pico de 28,9 em 2003 e recuou para 26,4 em 2008. E recuou por quê? Respondo: é que, naquele período de 10 anos, a taxa em São Paulo havia baixado espantosos 62,4%, e só por isso os índices nacionais não foram ainda maiores. Mas não pensem que ocorreu ao petismo dar crédito a um governo que era de outra legenda. Os ditos "especialistas" afirmavam que a queda no Estado se devia o Estatuto do Desarmamento e, ora vejam!, ao crescimento econômico.

Só não se explicava por que o Nordeste, por exemplo, com um crescimento econômico maior do que o Sudeste, viu a taxa de homicídios disparar. Nem por que o tal estatuto, então, teve efeito positivo em São Paulo, mas não em 16 Estados em que a violência havia… aumentado.

O que explicava os números de São Paulo? A esquerda jamais aceitou a evidência de que se tratava de uma política de segurança mais eficiente do que a dos outros estados. E ponto final. Ainda que o número de mortos fosse e seja alto para padrões civilizados. Mas estava e está longe da barbárie do resto do país.

Tentam agora explicar o crescimento da violência com a recessão. Nos anos lulistas, com o Nordeste praticamente inteiro rendido ou à esquerda ou subordinado ao petismo, a taxa de homicídios explodiu. Os bacanas se negavam a ver o óbvio. São Paulo é o Estado que mais prende. É que o submarxismo chulé entende que o "encarceramento" é só uma das expressões da luta de classes. Digo ser "submarxismo" porque os comunas mesmo, os originais, nunca deram trela para bandido e nunca julgaram que o crime fosse um instrumento útil à sua causa. Lênin mandava passar fogo na tigrada. Como não sou leninista, acho que basta prender. E tratar com a dignidade apropriada a um preso numa democracia.

Aqueles dados do Mapa da Violência evidenciam que não passa de picaretagem intelectual atribuir o aumento de homicídios à crise. Naquele caso, a carnificina se deu em pleno crescimento.

Eu não estou opinando. Eu estou demonstrando.

Para encerrar
Eu sei que o fato de ter havido um aumento brutal da violência mesmo em anos de alto crescimento não implica que a inversa seja um valor absoluto, ou algum tonto ainda seria tentado a sugerir que se provocasse uma recessão para garantir a paz. Eu estou é justamente pondo em perspectiva essa variável. Expansão ou retração da economia são dados da equação, não o valor de "X". As evidências empíricas indicam — e aí estão São Paulo e Rio para demonstrá-lo à farta — que a política de segurança e o Estado em ordem (ou em desordem) interferem muito mais nos números e acabam determinando o resultado.

Não foi a recessão que tornou o Rio mais violento e que fez disparar a taxa de homicídio, o número de policiais mortos e de pessoas em confrontos com a Polícia. Foi a herança de Sérgio Cabral, aquele que contou com o apoio quase unânime das elites e da imprensa do Rio.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.