Programa de Bolsonaro 2: Liberalismo em versão rústica e uma correlação notavelmente estúpida entre número de homicídios e Foro de São Paulo
O que se vende como programa, ou esboço de programa, é um emaranhado de considerações genéricas, confusas e desconexas. O lema de saída já põe um fim na laicidade do Estado: "Brasil acima de tudo; Deus acima de todos". Bem, se Deus está acima da Constituição — a exemplo do que ocorre nas ditaduras islâmicas, por exemplo —, será preciso definir logo à partida os nomes dos intérpretes oficiais do Altíssimo. Proponho Cabo Daciolo… Afinal, é o que estará "acima de todos", o que inclui o presidente.
Bolsonaro promete "os ajustes necessários para garantir crescimento com inflação baixa e geração de empregos." Como? Ele não diz.
Na mesma página em que aparece essa promessa, há outra: "Enfrentaremos o viés totalitário do Foro de São Paulo". O tema é recorrente no documento. Ainda acabará pedindo a ajuda de Daciolo para combater a Ursal… O "Foro" existe? Claro que sim! Tem essa presença massacrante na realidade brasileira? É puro delírio para convertidos.
Num dos momentos mais estupefacientes do texto, afirma-se:
"Mais de UM MILHÃO de brasileiros foram assassinados desde a 1ª reunião do Foro de São Paulo".
É um disparate. Por mais que o tal "Foro", criado em 1990, reúna grupos de ideologia detestável, justificadores de ditaduras de esquerda, qual é o nexo causal entre uma coisa e outra? Além do berreiro bucéfalo, nenhum!
Há tanta verdade nisso como dizer que mais de um milhão de pessoas morreram assassinadas no país desde que a Mocidade Independente de Padre Miguel venceu o Carnaval de 1990 ou que Ozires Silva testou o primeiro celular no país. Os valentes vão mais longe e dizem que as Farc — sim, terroristas e criminosas! — introduziram o crack no Brasil. Falso como nota de R$ 3. A droga é fabricada por aqui mesmo, mas a cocaína que lhe serve de base tem origem na Bolívia, não na Colômbia, que é exportada para os EUA. Na mesma página, fala-se de desrespeito à vida e à propriedade privada. É o samba-do-bolsonaro-doido, que não é indolente como um índio, malandro com um crioulo ou cartorialista como um português, para ficar no termos do general Mourão, seu vice.
Verdadeiro liberalismo
Na sequência, Bolsonaro promete o verdadeiro liberalismo. Como? Ele explica com esta precisão:
"Nossa estratégia será adotar as mesmas ações que funcionam nos países com crescimento, emprego, baixa inflação, renda para os trabalhadores e oportunidades para todos."
Ah, agora, entendi…
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