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Reinaldo Azevedo

Protestar contra decisões da Justiça, tentando influenciar juízes, é parte do jogo democrático; ceder à pressão é que não é!

Reinaldo Azevedo

15/01/2018 07h25

Alguns setores que se fingem de liberais, mas que gostam mesmo é de chicote — contra os adversários, claro! —, mostram-se inconformados com as manifestações marcadas pelos petistas para tentar influenciar a decisão dos desembargadores do TRF 4. Será isso compatível com a democracia?

É claro que sim! Desde que esteja de acordo com os limites da lei. No mundo inteiro, setores organizados da sociedade vão às ruas para tentar influenciar a decisão de juízes. Estes, sim, é que devem fazer como Ulisses, não é?, na sua viagem de volta a Ítaca: tapar os ouvidos com cera para não se deixar levar pelo canto das sereias, pouco importando se estas empunham bandeiras vermelhas ou verde-amarelas. Vale dizer: togados não devem ceder ao alarido, mas fazer alarido compõem a essência do regime democrático.

Ou não foram pressões absolutamente legítimas as manifestações em favor do impeachment de Dilma — que, nota à margem, reafirme-se, cometeu crime de responsabilidade? Alguns dos nossos liberais de meia-tigela se esqueceram de que o Senado Federal, nos casos de crime de responsabilidade, atua como corte julgadora. Sim, aquilo a que se assistiu foi um julgamento. Não por acaso, quem presidiu os seis dias da sessão que cassou o mandato de Dilma foi Ricardo Lewandowski, então presidente do Supremo. Votaram pela condenação 61 parlamentares-juízes; contra ela, apenas 20. E, até onde me lembro, não ocorreu a ninguém, PORQUE TERIA SIDO ESTÚPIDO FAZÊ-LO, questionar se a pressão era ou não democrática.

"E se a turma contrária à condenação, diante de um resultado eventualmente adverso, resolver partir para a briga?" Bem, acho que deve sofrer as consequências legais de seus atos. O primeiro passo e retirar o sujeito da rua e colocá-lo sob a segura guarda do Estado para esfriar a cabeça. Não vejo risco de que isso possa acontecer. Que a PM, no entanto, se prepare para o pior. O nome disso é prudência. E prudência é o que recomendo aos senhores políticos e militantes de um lado e de outro.

E que todos nos lembremos de uma regra de ouro da tolerância: a liberdade será sempre a liberdade de quem discorda de nós.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.