Temer: Dodge anui com nova prorrogação de inquérito; Barroso, que troca receita de bolo de cenoura com delegado da PF, deve topar, claro!
A caçada ao presidente Michel Temer continua. É tal a sede de sangue que não se quer esperar nem mesmo a conclusão de seu mandato. Canibais não aplacam com facilidade a sua fúria. Por que afirmo isso?
Raquel Dodge, procuradora-geral da República, concordou com o pedido da Polícia Federal — na verdade, do delegado Cleyber Lopes — e pede a Roberto Barroso, relator do caso no Supremo, uma nova prorrogação do inquérito. E Barroso, claro!, no auge da fama de inimigo implacável da corrupção, exercendo o seu papel de chefe dos canibais, deve concordar. Por que não?
O país só tem a perder com a instabilidade política gerada por esse tipo de procedimento. Mas o ministro só tem a ganhar.
Vejam o caso da decisão tomada pelo Supremo: deputados e senadores, sem o foro especial, ou passam a ser reféns de oligarquias locais ou serão eles mesmos os oligarcas a decidir o próprio destino se deverem alguma coisa à Justiça. Mas o homem está sendo aplaudido. Em particular, pela direita que ronca e fuça. Sigamos.
Cleyber e Barroso passaram a ter linha direta. Agora é amizade. A relação deixou de ser entre o delegado que investiga e o relator do tribunal em que está a investigação. É uma metáfora, claro! Mas, daqui a pouco, os dois estão trocando receitas de bolo de cenoura. A quebra do sigilo bancário do presidente retroativa a 2013, quando estava fora do cargo, Cleyber conseguiu diretamente com Barroso, contra parecer da própria PGR. Entre uma dica culinária e outra, continuo da metáfora, rolou o pedido. E Barroso aceitou.
Afinal, não podemos esquecer: segundo o seu hagiógrafo, o doutor comanda a revolução "judiciarista" no pais.
Por que a Polícia Federal pede prorrogação atrás de prorrogação? Porque não tem como concluir o inquérito com algo convincente. Essa investigação do decreto dos portos foi aberta, por sugestão de Rodrigo Janot, para ver se algo seria encontrado contra Temer. O procedimento é próprio de ditaduras.
Pior: como virou moda no país depois da Lava Jato, começa-se a investigar uma coisa, a colheita se revela infrutífera, e se vai mudando o objeto da investigação.
Nesse caso, a acusação original era a de que Temer havia beneficiado a empresa Rodrimar com um decreto sobre os portos. Nada foi encontrado. Não conseguiram encontrar a prova. No atual estágio, a apuração consiste em buscar elementos que tentem provar uma tese: o presidente teria usado a compra de imóveis para lavar propina, inclusive da JBS.
JBS? Pois é. Tudo o que diz respeito a JBS-Temer — e não há nada além de ilações de Janot — constava da denúncia do ex-procurador-geral, que foi rejeitada pela Câmara. Essa questão só poderia ser retomada, se houvesse razão para tanto, depois do encerramento do mandato. Mas não! Está tudo junto e misturado.
A Constituição está morta, e o devido processo legal foi para o espaço. Boa parte da imprensa não percebe. Ela também se transformou num braço do Partido da Polícia. A ficha só vai cair quando ela começar a ser vítima de sua própria concepção de mundo.