Será que Doria poderia deixar o PSDB para disputar a Presidência pelo PMDB? Bem, depende...
Antes dos eventos ruidosos de Salvador (ver post anterior), o prefeito João Doria e o presidente Michel Temer estiveram na Prefeitura de São Paulo, em solenidade em que o governo federal transferiu para a administração municipal parte do Campo de Marte. O prefeito ouviu as seguintes palavras, saídas da boca do presidente:
"Saio daqui mais animado ainda porque vejo aqui um parceiro, um companheiro, alguém que compreende como ninguém os problemas do país".
E Temer ouviu do prefeito:
"Sempre a sua alma e a sua índole foram de conciliação. A minha também. Isso não nos tira do campo da defesa de princípios e da firmeza de posições, de caráter, de postura e de biografias."
E o presidente respondeu:
"Jamais o vi dividindo pessoas. Ao contrário, sempre agregou. É inadmissível brasileiros jogando contra brasileiros. A história do nós contra eles não pode prevalecer. Se eu e o João tivéssemos nos pautado pelo emocionalismo, talvez não tivéssemos chegado a esse ato".
Disputa no PSDB
Vamos ver. Que Doria seja pré-candidato à Presidência da República, eis, a esta altura, um segredo de polichinelo. A sua inclinação para temas nacionais e a determinação de rivalizar com Lula desde os primeiros dias de gestão colheram o governador Geraldo Alckmin e seus assessores de surpresa. Os que diziam ao governador que o pupilo queria a Presidência ouviam de volta uma resposta incrédula. Alckmin tendia a achar que era coisa de quem pretendia intrigá-los.
Bem, o discurso feito na Bahia é, obviamente, o de candidato. A equação é delicada. O prefeito já andou esboçando que será o nome do PSDB aquele que reunir melhores condições na corrida etc. e tal. Essa verdade é sempre relativa. Pode estar melhor, por exemplo, o que consegue reunir mais apoios. Em tese, hoje, no cotejo entre os dois, esse nome é o do governador. Nas pesquisas, a vantagem numérica é do prefeito. E aí entra o "fator PMDB".
PMDB
Por razões óbvias, há um desgaste na relação PMDB-PSDB. O PSDB se dividiu na votação da denúncia contra Temer, e é um fato eloquente que 11 dos 21 tucanos que ficaram contra o presidente pertencem a São Paulo. Que leitura se fez em Brasília? Alckmin pode não ter organizado o voto contra o presidente, mas também não tentou fazer o contrário.
Tudo é bastante prematuro, não é? Mas, sem doações de empresas a campanhas, com os minguados recursos de um fundo público a ser criado, todo candidato anseia o latifúndio do PMDB no horário eleitoral.
Há tucanos que asseguram que Doria jamais disputaria prévias ou algo assim com Alckmin. O governador força para que a definição da candidatura do PSDB se dê em dezembro. Mas há também quem enxergue como nítida a possibilidade de o prefeito migrar para o PMDB caso não consiga ser o candidato.
Não vou pôr a bola de cristal para funcionar. Farei apenas algumas considerações lógicas. A possibilidade de o prefeito deixar o PSDB e migrar para o PMDB me parece muito pequena se o governador viabilizar a sua candidatura à Presidência. Se uma disputa interna faria crescer a sombra da deslealdade de Doria, imaginem um confronto em frentes diversas. E, acreditem, a pecha de "desleal" em política pode ser mortal.
Parece que Alckmin e Doria dançam um minueto de inimigos cordiais ou de amigos beligerantes. O governador sabe que não tem como impor a sua candidatura. Ela tem de ser construída. Não creio que o critério a definir o nome tucano sejam as pesquisas de intenção de votos. Deve pesar na decisão a capacidade de cada candidato de agregar apoios e montar palanques regionais.
Hoje, sem dúvida, o PMDB está mais próximo de Doria do que de Alckmin, mas isso não é imutável. Que o prefeito de São Paulo tem faro para o noticiário, isso é inequívoco. Os eventos desta segunda o provam à farta.
E, bem, sabemos: sem quebrar ovos, não se tem omelete.