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Reinaldo Azevedo

Temer ao blog, rumo a Davos: 'Investidores reconhecem que estamos no bom caminho'. E como você paga pançudo ao tomar café

Reinaldo Azevedo

23/01/2018 16h42

"As instituições brasileiras estão funcionando, o que dá tranquilidade para quem quiser investir no país".  A fala é do presidente Michel Temer, durante entrevista em Zurique, na Suíça. Ele discursa nesta quarta no Fórum Econômico Mundial de Davos.  O presidente falará sobre as perspectivas econômicas do país e sobre um plano de concessões e privatizações que pode render ao país até R$ 130 bilhões.

Conversei com o presidente ontem à noite. Ele estava muito animado. Lembrou que o rebaixamento da nota do país pela Standard & Poor's havido há pouco não era desejável, mas saudou o fato de que o interesse dos investidores pelo país não havia diminuído: "Ao contrário até, viu, Reinaldo? Tem crescido. É claro que as dificuldades existem, mas todos reconhecem que o governo faz escolhas que indicam que estamos no caminho certo. A nota é uma advertência que os agentes econômicos têm de levar em conta, mas não é uma condenação quando se faz a coisa certa. E nós estamos fazendo".

E ele tem razão. A retomada da economia é matéria de fato, não de gosto ou juízo de valor. E, sim, isso se deve, em grande parte, a decisões tomadas pelo governo. Mas não há país que aguente eternamente desaforos, não é mesmo? Se a reforma da Previdência empacar — e o risco é grande! — ou se, pior, ficar claro que o país não conseguirá realizá-la, é claro que que aquilo que poderia ser um ciclo de crescimento de longa duração será interrompido. A razão é simples. Um país que fabrica os déficits que fabricamos não se torna o lugar mais atraente para pôr dinheiro de longo prazo.

Esta segunda, dia 22 de janeiro, foi particularmente eloquente nesse sentido. Números vieram a público: o déficit da Previdência da União (INSS e servidores) atingiu R$ 268,798 bilhões no ano passado. Só as contas do INSS ficaram R$ 182,45 bilhões no vermelho. Só o rombo da Previdência dos servidores da União foi de espantosos R$ 86,348 bilhões. Em relação ao ano anterior, 2016, o déficit do INSS cresceu estupendos 21,8%, com uma alta de R$ 32,717 bilhões.

Que país aguenta isso?

A resposta é simples: nenhum! Um país assim caminha para o abismo no médio prazo. E essa trajetória tem de ser interrompida, ou não há política pública que possa ser formulada. E que se note: a reforma proposta por Michel Temer não dá uma resposta imediata — e não que ela não fosse, do ponto de vista da contabilidade, desejável. O equacionamento que se faz é de médio prazo, justamente para evitar traumas na área social, sendo certo que uma outra reforma deverá ser feita dentro de alguns anos. Mas se terá, ao menos, uma sinalização de que o país está disposto a arrumar seu livro-caixa.

As pressões, no entanto, são imensas para que o país fique eternamente no buraco. O objetivo é esse? Claro que não! Ninguém confessa um troço assim. Mas essa é a consequência inevitável de se manter o atual sistema previdenciário.

E, vamos ser claros?, até a nomeação de um ministro ou ministra do Estado está submetida ao crivo dos que pretendem impedir a reforma da Previdência, não é mesmo, ministra Cármen Lúcia?

O Brasil avança, apesar dos interesses de uma elite aboletada no Estado e que não abre mão se sangrar os cofres públicos para manter uma vida de muitos privilégios e poucos esforços. Não há Lava Jato que dê jeito nisso. Ao contrário, alguns dos pilares da operação supõem esse Estado perdulário, autoritário e, no fundo, oligárquico, já que boa parte do rombo anual produzido pelo país sustenta os privilégios de uma minoria de servidores. Só para lembrar: o déficit da Previdência que garante a boa vida dos nababos torna mais cara a sua vida cotidiana, por exemplo, uma vez que está na raiz dos juros que o governo paga para captar empréstimos. Quando você toma uma cafezinho, está pagando parte dos privilégios dos pançudos.

Volto ao ponto: é claro que o Brasil tem saída. Mas é preciso que se ponha fim o roubo multibilionário a que o povo é submetido a cada ano.

Eis uma realidade sobre a qual os Sérgios Moros, os Rodrigos Janots e os Deltan Dallagnois silenciam de modo covarde.

Que o presidente tenha sucesso em Davos em atrair investidores estrangeiros para o país. E que a gente consiga fazer a coisa certa. Está difícil. Mas vamos à briga.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.