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Reinaldo Azevedo

Vídeo com Funaro expõe método de investigação de Janot, este monstro nada sagrado do MPF

Reinaldo Azevedo

13/10/2017 17h12

Se você, além de entrar em contato com um monumento moral, quiser proceder a um exercício de "construção da verdade instrumental", pouco importa se com ocorrências verdadeiras ou falsas, deve clicar aqui para assistir ao vídeo em que o doleiro Lúcio Funaro assegura ter ido buscar um dinheiro no escritório de José Yunes, então assessor de Michel Temer, para repassar para a campanha de Geddel Vieira Lima. Yunes diz que ele está mentindo. E eu digo o quê?

Como sempre, nessas coisas, afirmo o óbvio: investigue-se. Sim, bandidos, como Funaro, podem ajudar a desvendar tramoias. Se a palavra de um criminoso nunca merecesse crédito, não haveria delação premiada possível. Sempre destacando que, mundo afora, à diferença da prática corriqueira no Brasil, só a delação não serve para levar ninguém aos tribunais. É preciso que o órgão acusador forneça as provas.

Mas o que dizer de um bandido contumaz, personagem de vários escândalos, que sempre se dá bem no fim da narrativa? Notem: tudo caminha para que Funaro, mais uma vez, escape quase ileso. Temos um encontro marcado com ele na próxima safadeza que for investigada. Nesse caso, por óbvio, a "colaboração" do bandido merece ser vista com especial desconfiança.

Também chamo a atenção de vocês para a técnica empregada pela Procuradoria Geral da República: perguntar várias vezes a mesma coisa para que a reiteração da resposta fique com a aparência de uma verdade.

Sim, repetir perguntas a um depoente é uma técnica de interrogatório, desde que se acrescente, a cada vez, um novo elemento para que, se for o caso, caia em contradição. Não é o caso. Vejam lá. A repetição se dá sem razão, sem que se acrescente nada de novo.

As falas desse Funaro têm um aspecto particular, que merece ser destacado. Num dos depoimentos, ele acusa o presidente Temer de lavar dinheiro irregular com a compra de imóveis. E qual é a prova que ele apresenta. Ele diz que é um operador de mercado, que conhece essas coisas e que todos sabem que imóveis são um meio eficiente para lavar dinheiro.

Entenderam?

No vídeo em questão, ele diz ter ido pegar uma caixa dom R$ 1 milhão no escritório de Yunes. O representante da PGR quer saber se o então assessor de Temer sabia haver dinheiro na caixa, e Funaro diz que sim. E quais as evidências que ele apresenta. Uma delas, assegura, era o peso da dita-cuja. Pergunta a PGR: "Dá para saber que a caixa tinha dinheiro?". E ele responde: "Todo mundo sabe que a caixa tem dinheiro. Isso aí está óbvio que a caixa tinha dinheiro."

Assim são feitas as investigações e denúncias deste monstro nada sagrado do MPF: Rodrigo Janot.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.