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Reinaldo Azevedo

Acertei tudo, no detalhe! Janot usou a direita xucra para tentar a absolvição histórica do PT

Reinaldo Azevedo

18/06/2017 07h05

Sim, eis um post gigantesco. A escrita "cocô de cabrito" (em bolinhas) ou de pato (em jatinhos) não me interessa — estilo inaugurado nas redes por Paulo Henrique Amorim. Escrevo textos para pessoas alfabetizadas, que leem.

Vou ter de puxar pela memória. A minha e a de vocês.

Sei bem o que passei a partir do dia 13 de fevereiro, quando acusei a direita xucra de estar fazendo o jogo do PT e das esquerdas. Fui demonizado, xingado, ofendido. Vagabundos e vagabundas, disfarçados e disfarçadas de jornalistas, apontavam o dedo: "Ele não gosta da Lava-Jato! Ele fala mal de Sérgio Moro! Ele é contra a prisão de bandidos". Não! O que eu fazia, desde meados do ano passado, era apontar o esforço de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, para promover uma espécie de absolvição histórica do PT, o que, diga-se, está em curso. Sentenciei, então, numa coluna da Folha de 17 de fevereiro: "Se todos são mesmo iguais, então Lula é melhor."

A audiência do programa de rádio que eu fazia então, "Os Pingos nos Is", na Jovem Pan, só crescia. Os "Pingos" não existem mais. Saiu do ar quando era o programa mais ouvido do país. Melhor a morte do que a decadência. Agora, faço "O É da Coisa", na BandNews FM, entre 18h e 19h, para todo o país, e até as 19h20 para São Paulo. Tenho a impressão de que já lidera no horário, vamos ver. As visitas a meu blog, que estava hospedado, então, na VEJA, se mantinham altíssimas. Hoje, ele está, como veem, na página da RedeTV!/UOL. E quase todos os leitores já sabem disso.

Ah, mas as redes sociais… O bueiro do capeta resolveu, com seus larápios e seus robôs, me transformar num saco de pancadas. Era o mais odiado pelas esquerdas, desde sempre, e me transformei no alvo preferencial da direita "lava-jateira", que não percebia o golpe de Rodrigo Janot. Aquilo que, para mim, podia ser quase tocado de tão presente e evidente era tido como miragem.  Longe de perceberem o jogo perigoso de Janot, alguns grupos decidiram marchar em favor da operação, acusando uma conspiração que nunca existiu.

Passei a enfrentar patrulha no meu trabalho, do tipo "barra-pesada" mesmo! Como eu ousava ser crítico da Lava-Jato? Estaria eu empenhado em defender os tucanos? Como me atrevia a criticar decisões de Sérgio Moro? "Olhe, eu fui a uma festa, e falaram mal de você!" Pois é. A minha crítica estava certa.  A festa é que era ruim.

E, como sabem, a perseguição partiu também de Brasília. Em meio a mais de duas mil gravações, pinçaram um grampo de uma conversa minha com Andrea Neves. Papo de jornalista com fonte, como ficou evidente. Mas a divulgação criminosa me custou dois pedidos de demissão. Não, não fiquei na rua da amargura porque haviam me sobrado dois empregos: a coluna na Folha e o comentário diário no RedeTV! News. Com efeito, em 50 minutos, lá me foram duas ocupações: uma de 12 anos, e outra de três anos e meio. Uma hora depois, eu já estava, de novo, digamos, quadruplamente empregado. E ainda recebi outras ofertas muito generosas, pelas quais sou imensamente grato.

Tenho muito apreço pelos posts que inauguraram o meu confronto com a direita xucra lava-jateira, que hoje, como se sabe, tem um herói: Joesley Batista!

Rodrigo Janot, este patriota sem igual, jogou lama da reputação de praticamente todas as lideranças políticas para fazer de Joesleyu Batista o nosso herói sem nenhum caráter.

Aos posts! Pena eu não ter usado meus dons premonitórios para ganhar na mega-sena, né? Mas me ocorre agora que, para ganhar, e é preciso jogar, rsss.

O PRIMEIRO

O  primeiro post se chama Revolução dos Idiotas 1: PT faz direita xucra zurrar de prazer. Lá se podia ler, às 6h11 do dia 13 de fevereiro.
Todos os movimentos políticos, de caráter revolucionário ou reformista, têm sempre de lidar com dois grupos de pessoas relativamente perigosos, que atuam em parceria: os oportunistas e os idiotas — sendo estes, obviamente, manipulados por aqueles. E é claro que estão em todos os lados da porfia: à direita, à esquerda, centro, acima, abaixo. Idiotas e malandros são tipos universais.

Os oportunistas enxergam na luta política só uma maneira de obter vantagens, e os idiotas atuam sem levar em conta ações táticas e escolhas estratégicas. Como não têm um diagnóstico da realidade — vale dizer: não entendem o que está em curso —, o seu prognóstico apela ao irrealizável. Está dada a questão de fundo. Agora vamos ao ponto: esquerdistas dos mais variados matizes, neste momento, cavalgam a direita xucra e tentam encontrar o caminho da volta ao poder. (…)

ATENÇÃO PARA ISTO: O PARTIDO QUE LEVOU DILMA ROUSSEFF A COMETER CRIME DE RESPONSABILIDADE — E SÓ POR ISSO ELA CAIU — NÃO FOI O PT LADRÃO DO CAIXA, MAS O PT LADRÃO DE INSTITUIÇÕES.

Ora bolas! Eu não me opus e não me oponho ao PT só porque a Lava Jato revelou que aquilo era um valhacouto. Criei o termo "petralhas" antes de Lula vencer a disputa pela primeira vez, em 2002. Eu denunciei a natureza autoritária e aparelhista dos companheiros quando ainda tinham fama de honestos. Ou você que me lê seria um petista se lá só houvesse santos? Eu não seria. Então a corrupção é irrelevante? A pergunta é estúpida. É claro que não. A honestidade é um imperativo.

O SEGUNDO

O segundo post veio à luz 33 minutos depois, com o título Revolução dos Idiotas 2 – Esquerda existe direita xucra nas ruas . Naquele 13 de fevereiro se lia, às 6h44:
Seria até engraçado se o que está em curso não beirasse o melancólico. As esquerdas, ora vejam!, estão a cobrar daqueles que apoiaram o impeachment de Dilma: "Por que vocês não estão nas ruas?". E sabem o que é curioso? A direita cavalgada já fala em marcar data para protestos. A pauta exala aquele moralismo rombudo, que chamo de "túmulo da moral": – em defesa da Lava Jato (ela está sob risco)?; – contra Moreira Franco ministro; – contra o "foro privilegiado"; – pela diminuição do número de deputados e senadores; – que todos os acusados e investigados deixem o governo imediatamente…

O colunista Janio de Freitas, um crítico do impeachment mais duro do que qualquer petista, não perde tempo em seu texto de domingo. Lá se pode ler:

"Agora ficou mais fácil compreender o que se tem passado no Brasil. O poder pós-impeachment compôs-se de sócios-atletas da Lava Jato e, no entanto, não há panelaço para o despejo de Moreira Franco, ou de qualquer outro da facção, como nem sequer houve para Geddel Vieira Lima. Não há panelaços nem bonecos inflados com roupa de presidiário."
(…)
Muito bem! O colunista deixa claro quão desprezível somos e registra o que chama "ausência de panelaços" e "bonecos infláveis"… Bem, mas por que haveríamos de ser nós, os pró-impeachment, a fazê-los? Não existem as esquerdas para isso?
Aí o liberal leso e o direitista que zurra consideram: "É! Ele pode estar certo. Afinal, somos contra a corrupção de todos os partidos e governos…".
(…)
Venham cá: a natureza desse governo que aí está é, em alguma medida, semelhante ao governo Dilma, que foi deposto? Sem crime de responsabilidade, reitere-se, ela não teria caído. Mas também não teria caído só com ele. Para Dilma cair, foi preciso:

– quebrar o país;
– conduzi-lo à maior recessão de sua história;
– transformar o Congresso num mercadão;
– substituir a agenda do país pela agenda do partido;
– o PT ver desmoralizada a sua fama de monopolista da virtude.

Já manifestei aqui a minha satisfação por Dilma ter cometido crime de responsabilidade. Sem ele, estaríamos condenados ao desastre. Sem ele, Janio estaria aplaudindo a presidente honesta a dançar sobre o caos.

Em suma, os idiotas estão caindo na conversa das esquerdas, que agora querem comparar um governo com muitos problemas, sim — mas que nos deu uma perspectiva de futuro ao menos —, com um outro que nos conduzia à ruína.

Alô, direitistas xucros! Janio e outros esquerdistas os esperam na praça. Afinal, vocês são ou não são contra a corrupção e a favor da Lava Jato?

O TERCEIRO POST

Quarenta e seis minutos se passaram, e o blog trazia Revolução dos Idiotas 3 – Discurso da Lava-jato absolve o petismo. O Internauta, então, pôde ler:
O maior de todos os defeitos da operação é a paixão de procuradores pelos holofotes e a frequência com que ignoram marcos legais. Como são aplaudidos pela esmagadora maioria da imprensa e por grupos que militaram em favor do impeachment, passaram a ver a si mesmos como seres acima do bem e do mal. Mas esse é um registro lateral. Não é matéria deste texto.
(…)

Desde o começo, chamo atenção para o fato de que a operação nega o caráter do PT — aquele que me levou ao combate há mais de 25 anos — e serve como tribunal de inquisição e condenação de todo o processo político. Poucos atentam para essa sutileza importante. Ora, nunca ninguém atribuiu ao PT o papel de monopolista da corrupção. Isso é mentira! Aliás, o difícil era o contrário: a gente convencer as pessoas de que também petistas eram corruptos.

Ora, que bom seria se a Lava Jato tivesse nos conduzido hoje à constatação de que precisamos de um regime de governo que impeça o estado de ser assaltado por um partido. E estaríamos debatendo parlamentarismo. Que bom seria se a Lava Jato tivesse nos conduzido à constatação de que uma sigla só consegue privatizar o estado porque há estatais demais no Brasil. E estaríamos debatendo privatizações. Que bom seria se a Lava Jato tivesse nos conduzido à constatação de que o PT reestruturou, organizou e disciplinou a corrupção porque se constituía como estado paralelo.

Isso, no entanto, infelizmente, se perdeu em meio a esse berreiro promovido por procuradores, direita xucra e oportunistas, segundo os quais está em curso um grande complô para pôr fim à operação. Quanto menos evidências há, mais os convictos se assanham.

"Mas e o famoso PowerPoint do Deltan Dallagnol? Não dava conta justamente dessa centralidade do PT?" Com a devida vênia, aquela foi uma peça de propaganda — como a todos resta evidente — que buscou, pela via das ilações, demonstrar que Lula sempre foi o grande comandante. Pode até ser que tivesse mesmo a palavra última. Mas também o ex-presidente era e é peça de uma engrenagem, de um sistema. E ele se chama "PT".

A propósito: o sistema está mesmo todo corrompido, como sustentam hoje membros da Lava Jato e setores da imprensa, com uma grande conspiração envolvendo PMDB e PSDB? Mas esperem: e o PowerPoint? Tucanos e peemedebistas estariam tentando se livrar do enrosco com um esquema de que Lula era o chefe?

Há tantas teorias conspiratórias em curso que as pessoas já não sabem a qual aderir. Na dúvida, ficam com todas.
O fato é que a Lava Jato está devastando o processo político — e ainda voltarei a esse particular —; poupando os bacanas que fizeram lambança e que decidiram dar com a língua nos dentes (também falarei mais a respeito) e nos empurrando para o colo das esquerdas em 2018.

Os oportunistas ficam felizes porque podem especular ainda mais.

E a direita xucra se oferece para levar a espora da esquerda. Que coisa linda!

O QUARTO POST

Menos de uma hora depois, às 8h27, vinha o quarto post sobre o tema: Revolução dos Idiotas 4 – Xucros pavimentam volta das esquerdasEle é bastante claro. Parece que o escrevi usando bola de cristal. Leiam:

Três coisas assombrosas surgiram neste fim de semana na tela do meu celular. Uma delas tem o nome de "Carta Aberta do Povo Brasileiro ao Presidente Michel Temer". E é assinada pelo… povo brasileiro!!! Huuummm. Embora tente falar uma linguagem conservadora, recende a carniça. Certamente é coisa de urubus de esquerda:

– questiona a legitimidade de Michel Temer;
– acusa-o de ser beneficiário do mesmo esquema de Dilma;
– acusa Temer de ser tão aético como Lula e Dilma;
– diz que Moreira Franco ministro está para Lula ministro;
– ataca a indicação de Alexandre de Moraes para o STF;
– acusa o PMDB e PSDB de responsáveis por grandes males que há no Brasil;
– fala de uma suposta intenção de Temer de nomear Renan Calheiros para o Ministério da Justiça;
– pede o fim imediato do foro privilegiado.

Muito bem! E o texto traz uma ameaça: a retomada das manifestações.
(…)

A terceira coisa espantosa é um vídeo em que se sustenta que há uma grande operação em curso para acabar com a Lava Jato. Seus principais personagens seriam Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado; Renan Calheiros (AL), líder do PMDB na Casa; o ex-senador José Sarney (PMDB-MA) e Edison Lobão (PMDB-MA), guindado à Presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que é aquela que sabatinará Alexandre de Moraes, indicado por Michel Temer para o Supremo.

Toda essa gente está mancomunada, sustenta o vídeo, para asfixiar a Lava Jato. Mas há um detalhe estranho. Não se diz nem ali nem em lugar nenhum o que cada um deles pode fazer contra a operação. Fica aqui o desafio. Por que não se diz?

Aliás, faz-se escarcéu gigantesco porque Moraes vai para o STF. Ora, o petrolão será julgado pela Segunda Turma. Apenas presidentes de Poder estão submetidos ao pleno. Mais: Moraes será revisor do processo, sim, mas no pleno — fatia mínima da coisa.

Mistificação.

Conversa mole.

Terrorismo político.

E, ora vejam, lá está a direita xucra a cumprir o seu papel histórico: ser cavalgada pelas esquerdas.
A imprensa, com raras exceções, não ajuda muito. Vê inerme um tribunal de segunda instância a jogar no lixo a Constituição e dá de ombros. A institucionalidade que se dane!

Ora, é claro que nada disso é irrelevante. É claro que isso tudo tem um custo. Exacerbar a crise política — na contramão de uma melhora na economia — atende, obviamente, a um propósito: tentativa de deslegitimar o governo Temer, o que abrirá uma vereda e tanto para as esquerdas.

Não! O caso Moreira não é igual ao caso Lula. É mentira! Vamos ver o que diz Celso de Mello.

Não! Alexandre de Moraes não é uma peça para interferir na Lava Jato. Temer poderia ter nomeado o relator. Decidiu não fazê-lo.

Não! Eunício, Renan, Sarney ou qualquer outro político nada podem contra a Lava Jato.

E não! Não há conspiração nenhuma contra a operação.

A única conspiração em curso no Brasil é a mesmo a dos idiotas imodestos.

Sim, ainda vem mais coisa sobre os xucros e oportunistas.

Concluo
Repugna-me o lugar a que chegamos. Mas me sinto, se querem saber, recompensando. A recompensa é intelectual: é melhor acertar do que errar. Mas é também moral: para fazer o que fiz, é preciso ter coragem. E eu tenho.

A covardia é o defeito de caráter que mais me repugna. Em possível pé de igualdade com a deslealdade.

Covardes e desleais pra quê? Quem precisa deles?

Os canalhas.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.