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Reinaldo Azevedo

Advogados ironizam Moro: usa com o amigo fundamentos que não emprega na Lava Jato

Reinaldo Azevedo

28/08/2017 07h40

Zucolotto ao lado de Sérgio Moro em ocasião social. Argumento forte: ele é inocente porque é meu amigo…

Tão logo vieram a púbico a reportagem de Mônica Bergamo e a reposta de Sérgio Moro, teve início um debate no WhatsApp formado por um grupo de advogados. Eu mesmo recebi o texto abaixo, que, depois, Antônio Carlos de Almedia Castro, o Kakay, advogado de vários acusados, assumiria como seu. Trata-se, obviamente, de uma ironia, mas que questiona os métodos a que recorre a Lava Jato. Leiam:
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É claro que temos que dar ao Moro e aos Procuradores a presunção de inocência, o que este juiz e estes procuradores não fariam, mas é interessante notar e anotar algumas questões:

1: o juiz diz que não se deve dar valor à palavra de um "acusado". Opa! isto é rigorosamente o que ele faz ao longo de toda a operação!

2: O juiz confirma que sua esposa participou de um escritório com o seu amigo Zucolotto, mas sem "comunhão de trabalho ou de honorários". Esse fato seria certamente usado pelo juiz da 13ª vara como forte indício, suficiente para uma prisão contra um investigado qualquer. Seria presumida a responsabilidade, e o juiz iria ridicularizar essa linha de defesa.

3: A afirmação de que 2 procuradores enviaram por e-mail uma proposta nos mesmos termos da que o advogado, padrinho de casamento do juiz e sócio da esposa do juiz, seria certamente aceita como mais do que indício, mas como uma prova contundente da relação do advogado com a Força Tarefa.

4: O fato de o juiz ter entrado em contato diretamente com o advogado Zucolotto, seu padrinho de casamento, para enviar uma resposta à Folha, ou seja combinar uma resposta à jornalista, seria interpretado como obstrução de Justiça, com prisão preventiva decretada com certeza.

5: A negativa do tal procurador Carlos Fernando de que o advogado Zucolotto , embora conste na procuração, não é seu advogado mas sim um outro nome da procuração, seria ridicularizada e aceita como motivo para uma busca e apreensão no escritório de advocacia.

6: O tal Zucolatto diz que trabalha com a banca Tacla Duran, mas que conhece só Flávia e nem sabia que Rodrigo seria sócio, o que, se fosse analisada tal afirmação pelo juiz da 13ª Vara, certamente daria ensejo a condução coercitiva.

7: E o fato simples de a advogada ser também advogada da Odebrecht seria usado como indício de participação na operação.

8: A foto apresentada (Zucolotto ao lado de Moro), claro, seria usada como prova.

9: A negativa de Zucolotto, que afirma não ter o aplicativo no seu celular, seria fundamento para busca e apreensão do aparelho.

10: Enfim, a afirmação de que o pagamento deveria ser em espécie não precisaria ter prova, pois o próprio juiz admitiu ontem, numa palestra, que a condenação pode ser feita sem sequer precisar do ato de oficio, sem nenhuma comprovação.

11: Ou seja, embora exista a hipótese de esses fatos serem falsos, o que nos resta perguntar é como eles seriam usados pela República do Paraná. Se o tal "Deusllagnol' não usaria a imprensa e a rede social para expor estes fortes "indícios" que se entrelaçam na visão punitiva. Devemos continuar dando a eles a presunção de inocência, mesmo sabendo que eles agiriam de outra forma. Como diz o poeta "a vida dá, nega e tira". Um dia os arbitrários provarão do seu próprio veneno.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.