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Reinaldo Azevedo

Datafolha: Agora é “Fora, Temer”. Aderi à pregação da dupla Janot-Dallagnol e da direita xucra

Reinaldo Azevedo

24/06/2017 11h32

Ah, querem saber? Cansei! Agora eu também sou "Fora, Temer". Isso na versão mais barulhenta. Na menos, vou aderir ao postulado de FHC: o presidente que renuncie e marque eleições diretas num período, sei lá, de nove meses.

Que é que há?

1: Venho me manifestando em favor da permanência de Michel Temer à frente do governo, certo?

2: Tenho classificado de "criminosa" a operação para depor o presidente, que juntou Rodrigo Janot, Edson Fachin e Cármen Lúcia.

3: Nos meus espaços de interlocução — site, TV, blog e jornal —, um cara como Joesley Batista, esse patriota de matadouro, não se cria. Eu o considero um abscesso do capitalismo à brasileira.

4: Aponto, desde os primeiros dias — e existem os arquivos — as agressões à ordem legal praticadas pela Lava Jato.

5: Venho chamando a atenção para o estoque de ilegalidades que está sendo acumulado e que servirá de munição para o próximo governo.

Mas cansei.

Agora eu também quero botar meu fígado à mostra. E daí que a eventual saída de Temer inviabilize as reformas? Quem precisa delas para ter opiniões consideradas corretas sobre o bem, o belo, o justo e o verdadeiro? Aí o Anjo Bom que habita em mim, que nada tem de pensamentos sombrios, que sempre busca olhar o futuro, ainda adverte: "Mas Reinaldo, pode ser agora ou nunca; Temer, ainda que com um governo impopular, mas com maioria no Congresso, pode fazer o que o futuro presidente não fará porque, na eleição, terá de se comprometer com a não-reforma".

— Eu sei, meu velho! Mas também eu quero aquela dose de irresponsabilidade antes que os bares se fechem. Agora eu estou com os 69%, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado, que consideram a gestão "ruim ou péssima". E vou me juntar aos 76% que dizem que ele tem de renunciar. Aos 65% que querem a saída já. E também aos 81% para os quais, não havendo renúncia, que haja impeachment. E aos 83% que defendem eleições diretas.

Se o PT quer derrubar o governo, se parte do PSDB quer derrubar o governo, se a extrema-esquerda quer derrubar o governo, se a extrema-direita quer derrubar o governo e se a Globo quer derrubar o governo, não é possível que tanta gente possa estar errada, e eu, que não quero, esteja certo — quer dizer: não queria! Agora, como diz Drummond, também pretendo ser "um brasileiro igualzinho a vocês".

Ah, eu até tenho pensando em fazer uma autocrítica, um mea-culpa. A cada vez que aponto as ilegalidades da Lava Jato — e, obviamente, não evidencio as legalidades porque, convenham, a Lei da Gravidade não é notícia —, e alguém, com crânio inteligente, responde: "Ah, mas os tribunais superiores endossaram…", sinto ganas de ressuscitar Lombroso. Que diabo de argumento é esse que tenta transformar um erro num acerto porque tem o endosso de uma autoridade?

Quer dizer agora que, se a maioria do STF seguir o magnífico pensamento de Roberto Barroso, segundo quem não há diploma legal superior a um acordo de delação celebrado entre um bandido e seus procuradores de estimação, isso está certo porque, afinal, o tribunal disse que está? Barroso é aquele que defendeu, em cena aberta, numa manifestação de pornografia do direito, que acordos de delação podem contemplar o que está e o que não está na lei.

Não interessa. Eu agora sou da turma do Barroso, da turma do Luiz Fux (não que eu tenha algum receio da delação de Sérgio Cabral…), da turma da Rosa Weber. Aliás, a exemplo da ministra, pretendo nem ser muito deste mundo. Ainda terei aquele ar meio ausente. Comigo não! Passei a ter senso de oportunidade. Sou Cármen Lúcia! Também quero aprender a dizer o nada com pompa! Também eu quero me perder em platitudes e esperar, quem sabe…, que a Presidência da República venha para o meu colo, caída da "árvore dos acontecimentos" — vai entre aspas porque é Karl Marx.

Ah, quase me esqueço! "Fora, Temer!". Aliás, vocês digam aí mentalmente lendo meu texto: "Fora, Temer!" A cada ponto final, entendem um "Fora, Temer!" Se não quiserem pôr a exclamação, vá lá. Mas dá para não abrir mão da vírgula? Não há hipótese de o nome do presidente não ser aí um vocativo. E os vocativos combinam com as vírgulas.

Não adianta
Ah, lá vem o anjo bonzinho… "Reinaldo, há sinais de recuperação da economia. Em um ano, o presidente conseguiu no Congresso o que não se conquistou em cinco. O melhor para o país, sem dúvida, é que Temer conclua o seu mandato, com a realização de eleição da data definida pela Constituição…" Mas vem o das Sombras:
— E vamos agora condescender com esse puteiro? Em nome da estabilidade, vamos endossar a corrupção?

O outro tenta:
— Não! Que se investigue tudo, mas sem recorrer a métodos ilegais, ora bolas! É possível lutar pela moralidade e conservar o Estado de Direito, não? Esse jacobinismo na Lava Jato…

— Jacobinismo uma ova! Quem começou com isso foi o Reinaldo Azevedo, este idiota! O Demétrio Magnoli, na Folha, agora resolveu entrar nessa também! Como bem disse Dallagnol, não se deve confiar na Justiça para fazer… justiça!

Tá bom. Então eu sou Dallagnol. Também pertencerei à igreja das pessoas cuja ética é longilínea e de faces rosadas. Aliás, desculpo-me com o procurador por ter classificado de fascistas pelo menos quatro de suas dez medidas contra a corrupção. A partir de hoje, passo a defender o uso de provas ilícitas em juízo, desde que colhidas de boa-fé, claro! Rodrigo Janot e Edson Fachin logo gritam: "Admita também as de má-fé, como nós fizemos com a gravação de Joesley…" E virei entusiasta da quase extinção do habeas corpus. A ditadura não ousou tanto. Pura consciência culpada! Quero mais: prego o teste aleatório de honestidade, o flagrante armado, a indução ao crime. Convenham: se o cara for decente, não cai, certo? E, por óbvio, vamos ampliar brutalmente as possibilidades de prisão preventiva. Não que Sérgio Moro, Edson Fachin "et alii" já não o tenham feito.

Precisamos ressuscitar o alienista; reconstruir a Casa Verde de Itaguaí.

Linha parvo-propositiva
"Fora, Temer!"

Também serei da linha parvo-propositiva e sairei repetindo por aí que quem atrapalha as reformas é Michel Temer… Direi: "Sem ele, tudo fica mais fácil!" Repetirei a glossolalia dos ditos "cabeças pretas" do tucanato: "A gente sai do governo, mas apoia a reforma". Como sabemos, num Congresso que hoje é movido por forças agregadoras, não é?, será fácil aprovar as reformas se a base de Temer for para o brejo. Ainda mais quando se sabe que a maioria da população é contra as ditas-cujas.

Fim de papo! Este blog completa hoje 12 anos. Quero ser de companhia!

E já me preparo para fazer uma revisão sobre o "golpe do impeachment".

"Fora, Temer!"

— Reinaldo, isso não será bom para o país, sobretudo porque esse "Fora, Temer!" de agora nasce de escancaradas ilegalidades!

O Brasil que se dane! Como dizem os procuradores, é preciso refundar a República! Já chega a encheção de saco dos últimos meses, depois que antevi que a Lava Jato e a direita xucra acabariam por ressuscitar o PT e as esquerdas.

Estão aí, ressuscitados!

Agora eu sou "Fora, Temer!" com eleições diretas. E tem de ser logo, enquanto Lula ainda é elegível!

E me arrependo de ter escrito:
"A Lava Jato será o caminho mais longo, mais caro e mais traumático entre a esquerda e a… esquerda!"

E me penitencio por ter cravado:
"Se todos são iguais, como quer Janot, então Lula é melhor!"

Agora eu quero descansar um pouco na irresponsabilidade.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.