Barbosa esboça um rascunho de ideia: contra o ultraliberalismo, seja lá o que signifique. Dólar roça R$ 4. Imprensa aplaude pra doido dançar
Oba!
Agora vai!
Joaquim Barbosa (PSB), que diz ainda não saber se será ou não candidato à Presidência da República, certamente não tem um programa de governo. A seu respeito, não sabemos quase nada. Mas uma coisa ele já antecipou. Não é um ultraliberal. Seja lá o que isso signifique.
Sim, afinal, em primeiro lugar, seria preciso que definisse o que é ultraliberalismo. Soltou esta pérola:
"Não sou favorável a posições ultraliberais num país social e estruturalmente tão frágil e desequilibrado como o Brasil, com desigualdades profundas e historicamente enraizadas. Basta um rápido olhar para o chamado Brasil profundo ou para a periferia das nossas grandes metrópoles para se convencer da inadequação à nossa 'engenharia social' dessas soluções meramente livrescas, puramente especulativas. Evidentemente, elas não são solução para a grande miserabilidade que é a nossa marca de origem e que nós, aparentemente, insistimos em ignorar."
Vamos lá.
1: Definir o que é ultraliberalismo;
2: o ultraliberalismo só funcionaria em sociedades já igualitárias ou não funciona em lugar nenhum?;
3: qual é a nossa "engenharia social"?;
4: o que significa a expressão "soluções meramente livrescas"?;
5: o "meramente livrescas" refere-se apenas ao ultraliberalismo ou abrange toda a literatura sobre economia?;
6: o "meramente livrescas" pode ser um ataque aos próprios livros?;
7: que medidas em curso no Brasil seriam "meramente livrescas"?;
8: quem dispensa o "meramente livrescas" privilegia o "superiormente apedeuta"?;
9: se "as soluções meramente livrescas" não são a solução, então estamos diante de duas obscuridades:
a: saber o que quer dizer isso;
b: saber o que é que entra em lugar do não se sabe o quê;
10: se a solução para a "miserabilidade brasileira" não está nos livros, está onde? Em paus e pedras?
Que bom! Parece que estamos diante de um Bolsonaro que fala alemão, com sotaque de esquerda e intolerância de direita.
O dólar está raspando nos R$ 4.
Não é por acaso!
E com parte do colunismo — !!! — a um passo de pedir o fechamento do Supremo.
Faz sentido, não é mesmo? Afinal, quando a se fala em leis e em Constituição, estamos tratando de soluções "meramente livrescas" no campo do direito.
Li, ao longo da vida, muita coisa tentando entender como foi que a Alemanha, com o grau de desenvolvimento "livresco e especulativo" que tinha, caiu presa do nazismo.
Entendia intelectualmente. Mas, claro!, não tinha como vivenciar a coisa toda. Vivencio agora. Não! O Brasil não cairá presa do nazismo ou de um fascismo verde-amarelo. Nem há como se pensar em tais extremos. Mas as coisas conspiram — tudo o mais constante e se os porras-loucas do Partido da Polícia continuarem a rasgar as leis com o apoio de setores majoritários da imprensa — para o governo mais autoritário desde a redemocratização.
Vale dizer: em vez de avançar, corremos o risco de regredir.
Venho advertindo para esse risco desde o fim de 2016.
Pensem, pesem, sopesem e ponderem. Se Barbosa for mesmo à luta, leva consigo uma fatia do eleitorado bolsonarista. Como é grande a chance de a esquerda emplacar um nome no segundo turno, não é absurdo pensar numa etapa final — EM SENTIDO AMPLO — entre um petista, ou ungido pelo PT, e… Barbosa.
Ao que diria o quem-sabe-candidato: "Ora, Reinaldo, o liberalismo nada tem a ver com a nossa engenharia social"…
E, verdade, Barbosa! Nem mesmo temos os liberais. E os que assim se identificam estão aí, pedindo que se rasgue a Constituição.