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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro e Marina não podem comemorar; Haddad e Ciro crescem e compõem um empate quádruplo no 2º lugar; Alckmin anda só de lado

Reinaldo Azevedo

11/09/2018 08h19

O Datafolha publicou dados da pesquisa realizada, tabulada e divulgada nesta segunda. Quem ganhou e quem perdeu desde o levantamento anterior, publicado no dia 22 de agosto? Entre um e outro, está o episódio mais dramático ocorrido nesta campanha eleitoral: a agressão ao deputado Jair Bolsonaro, que liderava, e lidera, a disputa no primeiro turno sem o nome de Lula na simulação. Infelizmente para os partidários do capitão reformado, a migração em massa, aos milhões, para o candidato do PSL não aconteceu e não parece que vá acontecer. A previsão grandiloquente de Flávio, seu filho, não se cumpriu. O pai não vai se eleger no primeiro turno. E, a estar certa a pesquisa, se a eleição fosse hoje, não se elegeria nem no segundo.

Nesse sentido, Bolsonaro e seus entusiastas são os grandes derrotados no período. No primeiro turno, no levantamento estimulado, ele avançou apenas dois pontos percentuais, de 22% para 24%, dentro da margem de erro, que é dois pontos para mais ou para menos. Na pesquisa Datafolha, a rejeição a seu nome, em vez de diminuir, pode ter crescido, passando de 39% para 43%. O candidato do PSL não tem por que comemorar o seu desempenho num eventual segundo turno.

Na sondagem passada, ele perderia para o tucano Geraldo Alckmin por 38% a 33%; agora, por 43% a 34%: uma diferença de cinco pontos passou a ser de nove. Há três semanas, estava a cinco pontos de Ciro Gomes: 38% a 33% para o pedetista; desta feita, o adversário lidera por 45% a 35%. Bolsonaro vencia com folga o petista então ainda mais desconhecido do que hoje Fernando Haddad: 38% a 29%. A diferença antes favorável em nove pontos foi superada, e o petista já aparece um ponto à frente de sua antípoda: 39% a 38%. Está na margem de erro, mas a tendência parece clara. A distância só foi encurtada no embate com Marina Silva (Rede): de 45% a 34% em favor dela para 43% a 37%.

Não é o tipo de número que deva deixar felizes os fiéis do chamado "mito". Marina é quem mais perdeu no período segundo o levantamento do instituto. Isolada no segundo lugar quando Lula não aparecia na contenda, com 16%, sua candidatura parece passar por um processo de derretimento: ela tem agora apenas 11%. A candidata da Rede também vê se esvair sua dianteira no segundo turno no confronto com outros candidatos: vencia Alckmin por 41% a 33%; agora, empata com ele: 38% a 37%. Ela perderia hoje para Ciro por 41% a 35% — não há levantamento anterior para comparação. Ao lado de Bolsonaro, Marina é quem tem menos razões para gostar dos números.

Ciro, por sua vez, pode se dar por satisfeito. Entrou no batalhão dos segundos colocados e está numericamente à frente dos concorrentes nesse patamar, mas em empate técnico: conta com 13%, contra 11% de Marina, 10% do tucano Geraldo Alckmin e 9% do petista Fernando Haddad. Tecnicamente, trata-se de um empate quádruplo. Já vimos que Ciro aumentou a distância em relação a Bolsonaro e bateria Marina com facilidade. O mesmo aconteceu no confronto com Alckmin: Ciro perdia por 31% a 37% na pesquisa de 22 de agosto; agora, aparece em empate técnico com o tucano, mas numericamente à frente: 39% a 35%. Mesmo dispondo de apenas 38s em cada bloco de propaganda e de míseras 51 inserções ao longo de toda a campanha, seu nome cresce como alternativa.

Os números são, sim, positivos para o petista Fernando Haddad, com ressalva. Ele tinha 4% há três semanas; agora, são 9%. Vejam o tempo que seus oponentes demoraram para atingir essa marca. Ele deve ser oficializado candidato do PT nesta terça, mas sem muito entusiasmo de Lula, o que, a esta altura, já virou maluquice. Quando se considera o tamanho da máquina do partido, em contraste com outros que estão em segundo lugar, parece tentador apontar para um cenário em que pode disputar o segundo turno com Bolsonaro. Ocorre que a legenda, até agora, não abraçou a sua candidatura para valer. Falta menos de um mês para a eleição.

E Geraldo Alckmin? Por enquanto, nota-se a apreensão do PSDB e há a sensação em muitos grupos de que ele é o melhor candidato que pode não ser eleito. Bem, esse é o tipo de juízo que não ajuda a eleger o melhor, não é mesmo? Entendo, particularmente, que é grande a chance de haver um candidato de esquerda no segundo turno. Que Alckmin terce armas com a esquerda para marcar posição, vá lá. Continuo a achar, no entanto, que o melhor caminho para Alckmin é opor, em linguagem popular, o candidato liberal que ele é à direita reacionária, representada por Bolsonaro.

É claro que uma facada é inadmissível numa disputa eleitoral. Quem diria o contrário, ainda que pensasse? Mas não creio que possa haver quem enverede por esse caminho. Parece-me igualmente pacífico que o eleitor rejeita, com absoluta veemência, a corrupção. Mas talvez não esteja disposoto a pagar qualquer preço para afastar esse risco. A rejeição a Bolsonaro parece apontar que não basta a um candidato dizer-se contrário a tudo isso daí", sem, no entanto, deixar claro que diabos pretende fazer com o Brasil.

As manifestações do bolsonarismo, que se seguiram ao ataque à faca, podem não ter sido as mais inteligentes. Tratarei do assunto em outro post. Vamos ver. A decepção nos círculos de partidários do candidato é gigantesca, e as parcelas mais aguerridas que fazem a guerrilha eleitoral em defesa de seu nome das redes já se esforçam para desmoralizar os números do Datafolha, opondo à pesquisa levantamentos feitos por telefone. Pode até ser que exista, como querem alguns, um certo "bolsonarismo envergonhado", que se recusaria a revelar sua escolha a pesquisadores. A mim me parece que isso é coisa do passado. O que tenho visto, de forma às vezes até surpreendente, é gente sem vergonha nenhuma de declarar seu voto no candidato. O problema é que se concentram numa faixa de renda que é minoritária entre os eleitores.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.