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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro nomeia o general Azevedo e Silva para a Defesa. Melhor um militar civilista no cargo do que civil militarista ou vivandeira

Reinaldo Azevedo

13/11/2018 16h53

O general Fernando Azevedo e Silva em 2015. Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

O general da reserva Fernando Azevedo e Silva será o ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro. O presidente eleito anunciou o nome no Twitter. Nota à margem: pelo visto, a prática vai mesmo continuar. Por enquanto, ela não tem maiores consequências. Vamos ver depois, quando ele tiver de negociar, por exemplo, a reforma da Previdência. Mas vamos ao ponto: a escolha foi boa? Foi.

Quando migrou para a reserva, Azevedo e Silva era chefe do Estado Maior do Exército, que é o segundo cargo na Força, atrás apenas do comandante. No momento, Azevedo e Silva é assessor especial do presidente do Supremo, Dias Toffoli, que afirmou, em nota, ter sido consultado na manhã desta terça a respeito. Escreveu: "Hoje pela manhã, fui consultado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro sobre a indicação de Fernando Azevedo e Silva e prontamente disse que seria uma excelente escolha".

Na verdade, o assunto veio à tona na conversa que mantiveram no dia 7. O presidente eleito comunicou a Toffoli que pensava em convidar seu assessor para comandar a Defesa. Obviamente, o chefe do Supremo não viu nenhum inconveniente.

Uma curiosidade: pessoas das mais diversas correntes políticas e funções que transitam em Brasília são unânimes em asseverar que o general é competente, cordato, firme, profissional etc. Impossível, até onde conversei, encontrar uma voz crítica. O militar tem trânsito também junto a políticos de esquerda. Foi o chefe da Autoridade Pública Olímpica durante a gestão da presidente Dilma Rousseff. É amigo pessoal de Hamílton Mourão, vice-presidente eleito, e homem da mais estrita confiança de Eduardo Villas Bôas, que comanda o Exército.

Mourão, a propósito, havia dado a entender que o cargo poderia ser ocupado por alguém da Marinha. Este blog apurou que o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que comanda a Força, chegou a ser sondado, sim, para a função, mas preferiu declinar antes que o convite fosse feito.

O que há de positivo na escolha de Azevedo e Silva? É considerado um quadro tecnicamente competente, tem experiência política, é respeitado pelos militares, tem bom trânsito no Supremo — que será, acreditem, um palco de decisões importantes no governo Bolsonaro —, conversa com desenvoltura com Mourão e também com Augusto Heleno, outro general da reserva que terá papel central no governo Bolsonaro: vai comandar o GSI (Gabinete da Segurança Institucional).

O que há de negativo? Vamos ver. Não é proibido um militar ocupar o cargo da Defesa, e nós estamos caminhando para a segunda indicação fardada, ainda que da reserva, depois da redemocratização. O outro é atual ministro: o também general Joaquim Silva e Luna. Os respectivos comandantes das Forças, por óbvio, têm de ser oficiais-generais de cada uma delas que tenham atingido o topo da carreira. Mas o comando da Defesa, no mundo democrático, é ocupado por civis. Porque se trata de um cargo, afinal de contas, civil.

Notem: o mal não está, em si, em haver um militar nessa função. Nem faria sentido que houvesse essa interdição, mas sim em não se estimular a profissionalização de civis nessa área. Até porque, nos bastidores, existem mais tensões e dissensões entre as Três Forças do que supõe a nossa vã vida civil. Haver um olhar não militar que pense essa questão, para além da lógica ou corporativista ou da guerra — e para tanto, afinal, eles são treinados — é essencial. E, reitero, assim é no mundo inteiro.

De toda sorte, há de positivo na indicação de Azevedo e Silva o fato de ele ter trânsito nesta, digamos, mundanidade — e não emprego o termo em sentido pejorativo — civil. Há quem assegure que a sua experiência militar é que será suplementar na sua atividade. Sua especial habilidade para o cargo estaria em enxergar os relevos da vida política segundo, então, um olhar civil, que compreende que a sociedade é diversa, plural, multifacetada. Vamos ver. Que assim seja.

Ademais, vamos convir: dados alguns civis que cercam Bolsonaro, talvez seja o caso de as consciências democráticas se regozijarem com o fato de que a indicação recai sobre um militar da reserva de mente arejada — ninguém disse o contrário — que tem trânsito na civilidade e no civilismo da política. Muito pior seria a escolha de um civil com trânsito eventualmente não-republicano em áreas militares.

Talvez seja o caso de observar, caminhando para a conclusão, que Azevedo e Silva conversa com mais correntes no Congresso Nacional, por exemplo, do Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil; Paulo Guedes, futuro czar da economia, e Sérgio Moro, que vai comandar a Justiça.

Para concluir, então: idealmente, um civil deve comandar a Defesa. Que fique a cargo de um militar que não invista na obstrução do diálogo e que compreenda a complexidade da sociedade democrática, bem, tanto melhor. É preferível a um civil que olhe para os militares como gendarmes de seus delírios autoritários.

Dados os nomes até agora nomeados por Bolsonaro, o general Azevedo e Silva é que merece a minha nota mais alta. Ele compreende a democracia com mais propriedade do que os outros. Isso lhes parece surpreendente?

Pois é.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.