Topo

Reinaldo Azevedo

CASO FLÁVIO BOLSONARO 2: Presidente e família apostam que a dinheirama de assessor vai ser esquecida. Cadê a valentia do MPF?

Reinaldo Azevedo

14/01/2019 20h22

Os Bolsonaros apostam em que o assunto Fabrício Queiroz vai para o ralo, junto com as baratas censuradas pelo governador do Rio, Wilson Witzel. E aqui cumpre uma indagação: embora Queiroz fosse assessor de Flávio quando este era deputado estadual, não cabe ao Ministério Público Federal entrar no caso? Ou, então, digam por que não. Uma das funcionárias envolvidas na movimentação da grana — Nathalia, filha de Queiroz — serviu também ao gabinete de Bolsonaro-pai, Jair, quando este era deputado federal. E, reitere-se, Flávio, o titular do gabinete que serviu de palco para as manobras financeiras, é agora senador.

A observadores mais atentos, não escapa a suspeita de que o Ministério Público, nas esferas estadual e federal, age com lentidão incomum para o caso, não é mesmo? Parece haver uma aposta de que "o novo momento que vive o Brasil" contribuirá para que essa história caia no esquecimento. Quem sabe um novo ciclo da economia, com um crescimento fantástico, escoltado pelo otimismo dos mercados, possa jogar essa conversa para as calendas.

O trabalho jornalístico só faz sentido quando se diz tudo o que tem de ser dito, não é? Fossem outras as forças políticas envolvidas, e já haveria mandados de busca e apreensão e, quem sabe?, prisões preventivas, com oferta de delação premiada. Será que exagero? Não! Esse caso é exemplar de como as forças de investigação, que chamo genericamente de "Partido da Polícia", são capazes de eleger heróis e vilões e determinar o andamento da política.

Ainda voltarei ao tema muitas vezes, sim. Mas são muitas as evidências de que o bolsonarismo pretenderá se agarrar às, digamos, franjas da ética — ou da falta dela — para justificar lambança. Já temos até um ministro de Estado que afirma ter usado dinheiro público na campanha de Bolsonaro porque "estava ajudando a construir um novo Brasil". Ou por outra: para construir um novo Brasil, vale apelar aos métodos que se atribuíam, em tom de condenação moral, aos adversários.
Continua aqui

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.