COMO INFLUENCIAR E MATAR PESSOAS 2: A única conclusão a que um ser moral pode chegar: falta rigor ambiental, não o contrário
A ata que veio a público da reunião da Câmara de Atividades Minerárias, realizada no dia 11 de dezembro, é pornografia moral explícita. O encontro aconteceu na Secretaria de Estado do Meio Ambiente, sob os auspícios do glorioso governo de Fernando Pimentel (PT), que conseguiu ir até o fim, arrastando-se na indigência. O que se viu ali (clique aqui para ler detalhes) foi o triunfo de uma decisão abjeta, vitoriosa por 8 a 1 — e uma abstenção. A Vale queria ampliar em mais de 70% a extração de minério da região. Os riscos que a atividade comporta colocavam o projeto na "Classe 6". Isso implica que o licenciamento ambiental seria mais lento, feito em várias etapas — e, em cada uma delas, cuidados específicos que elevam, potencialmente ao menos, a segurança das pessoas e do próprio meio ambiente. Recorreu-se a um truque: rebaixou-se o pedido para a "Classe 4", que permite um ritual sumário. A "Classe 4" quer dizer que o troço não é tão arriscado assim e que certas verificações de segurança e algumas garantias são dispensáveis. Bem, a segurança do conjunto da obra se conta agora em corpos, não é mesmo?
Como já afirmei aqui, essa votação não tem relação de causa e efeito com a tragédia. Apenas revela como são feitas as coisas no país. Uma conselheira — Maria Teresa Viana de Freitas Corujo, do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc) — votou contra, com palavras duras. Chamou a decisão de "abominável". O representante do Ibama — Julio Cesar Dutra Grillo — se absteve, o que não deixa de ser curioso. Afinal, em seu voto, ele mesmo chamou a atenção não para os riscos novos que a ampliação da produção ensejaria, mas para os que já existiam: justamente o rompimento da barragem que… acabou se rompendo. Abstenção por quê?
Ou por outra, meus caros: optou-se pelo licenciamento rápido em razão do suposto baixo rico que provocaria a elevação da produção quando era de conhecimento do grupo que, tudo o mais constante, sem mudança nenhuma, a possibilidade de rompimento já existia. Sim, a avaliação técnica atestava a segurança da barragem. Como se vê… Qual é a única conclusão a que pode chegar um ser moral? É preciso aumentar o rigor, não diminuí-lo, como se fez ali e como se tende a fazer em Minas e em toda parte, agora que chegou ao poder esta seita que, à luz do dia, faz cara de liberal e, à sombra, remete à fuça do que há de mais velho e encarquilhado no país. É na condição de liberal que digo: o liberalismo não foi feito para matar ninguém.
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