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Reinaldo Azevedo

Discurso de Cid chamando petistas de “babacas” foi parar no horário eleitoral de Bolsonaro; a fala praticamente sepulta possibilidade de uma frente

Reinaldo Azevedo

17/10/2018 06h59

O que já não era fácil para o PT acabou ficando muito pior depois da explosão de Cid Gomes, senador eleito (PDT) pelo Ceará e irmão de Ciro Gomes, que viajou à Europa logo depois do primeiro turno. Emprestou não mais do que apoio formal ao PT. Fez a sua parte? Fez! No primeiro turno, mais ele bateu em Bolsonaro do que Haddad, ocupado que estava em herdar os votos lulistas — razão por que colou seu nome ao do ex-presidente. Foi bem-sucedido e conseguiu ir para o segundo turno. Mas, nesse caso, o que salva também impõe limites. O eleitorado absolutamente fiel ao ex-presidente compareceu. Mas aquele que repudia Lula é também imenso.

O discurso de Cid, chamando os petistas que se negam a fazer autocrítica de "babacas" e dizendo que, então, o PT merece perder, foi parar, claro!, no horário eleitoral de Bolsonaro. Alguém tinha alguma dúvida a respeito? Quem viu o filme constatou: Cid pedia que o partido fizesse mea-culpa, que admitisse que errou, que fez besteira, e se irritou com petistas que expressaram, inicialmente, muxoxos de desagrado. Vê-se que sua braveza é dirigida contra um homem em particular, que fazia sinal negativo com os dedos.

E Cid aproveitou, então, para despejar palavras muito duras contra os petistas. O senador eleito não quer que a campanha de Bolsonaro use mais o filme. Nem precisa. Todo mundo viu, e o estrago está feito. Cid nega que tenha sido um "desabafo". Chamou o que fez de racional. E, se querem saber, acho que foi mesmo. Mas, por óbvio, ele sabia que não havia como aquilo ser bom para o petismo. Cumpre lembrar que o encontro buscava justamente articular apoio a Haddad — que o irmão de Ciro diz ser o melhor para o país quando confrontado com Bolsonaro. Mas é só. Não há sombra, por óbvio, de arrependimento, embora, experiente que é, Cid tivesse claro que o desabafo praticamente sepultaria a possibilidade de uma frente.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.