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Reinaldo Azevedo

General da educação diz que é preciso fazer chegar ao professor aquela que ele considera ser a leitura certa sobre 1964... Como se faria?

Reinaldo Azevedo

16/10/2018 06h53

Reprodução de charge de Mafalda, do argentino Quino.

O general Aléssio Ribeiro Souto também está preocupado com o conteúdo nas escolas. Até aí, bem! Diz ser preciso evitar o proselitismo ideológico. Digamos que todos concordemos com isso e que se deva fazer tal debate — e eu acho que devemos. Mas prestem atenção a estas perguntas e respostas:
O senhor já se manifestou a favor de retirar livros que não contassem "a verdade" sobre 1964.
A única coisa que vou falar sobre 64 é que eu só aceito ler e debater aspectos do regime de 64 à luz da liberdade e de praticar a verdade, a coragem e a ética. Fora disso, sequer aceito a ideia de debater.

Bem, de saída, há de se considerar que as pessoas podem ter divergências sobre o que são "verdade, coragem e ética". E que os conceitos só se aclaram com o debate.

Mais adiante, lê-se:
Mas é preciso esclarecer sua posição.
Não tenho medo de debater com transparência. No período de 1945, cerca de 400 e poucos brasileiros morreram para derrotar o nazismo
. Em 1964, houve 450 mortes dentre aqueles que queriam implantar a ditadura do proletariado. Mas houve 117 mortes daqueles que não queriam. Quando você trata dos problemas e das mortes  — e guerra traz mortes — tem de tratar dos dois lados. Existe a verdade, quer se queira ou não. E ela nem sempre tem sido retratada. Com frequência, minhas filhas chegam em casa falando coisas que não posso aceitar. Mas não está no livro de história, está na boca do professor.

Como pretende atacar isso?
Orientar toda a cadeia de gestão, até o professor na sala de aula, que nós buscamos a paz e a harmonia através da democracia e de praticar a verdade. E não usar a mentira e a canalhice. E aí é a mudança que Bolsonaro ofereceu ao povo brasileiro e foi acolhida majoritariamente
.

Sim, houve mortos dos dois lados, e eu mesmo já publiquei os nomes das vítimas dos terroristas de esquerda, coisa que foi ignorada pela Comissão da Verdade. Do, digamos, já inexistente ponto de vista de quem morre — que continua presente na memória dos vivos que se importam —, tanto faz saber se o algoz é A ou B. Do ponto de vista da organização do Estado, isso faz uma diferença brutal. Um Estado legal não pode aderir a práticas criminosas quando dispõe dos instrumentos que lhe garantem a legislação e o monopólio do uso da força justamente para combater o crime. São coisas distintas. Até as guerras dispõem de regulação internacional sobre o tratamento dispensando a prisioneiros, por exemplo.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.