Haddad deixa de visitar Lula na cadeia, escolhe o verde-e-amarelo, fala em uma espécie de frente antifascista... Contrasta com o primeiro turno. Talvez tenha de ser mais ainda mais claro
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, parou de visitar Lula na cadeia — por orientação, segundo versão oficial — do próprio ex-presidente, retirou o vermelho da campanha e busca falar uma linguagem suprapartidária, de uma espécie de "frente" contra a "extrema-direita" ou, como se diz em alguns nichos de esquerda, "contra o fascismo". Qual é a dificuldade dessa estratégia, até agora malsucedida, a estarem certos os números das pesquisas sobre o segundo turno? Ela contrasta em excesso com o que se fez no primeiro turno, quando a palavra de ordem consistia justamente em colar o candidato a Lula — era a alternativa para torná-lo viável em três semanas — e, nas palavras do próprio Lula, não cair na armadilha de fazer "acenos" à direita.
Parece-me que o petismo percebeu tarde que enfrentar a extrema-direita, num ambiente de crispação ideológica e de destruição da política, provocada pela Lava-Jato, era coisa bem distinta de se confrontar com o PSDB e aquilo que o PT entendia, então, por direita. Nesse caso, sempre houve um limite. Tratava-se de divergências sobre políticas públicas.
Agora, o PT está enfrentando uma campanha que fala a linguagem do extermínio, da eliminação do outro, em que não há espaço possível para o debate. Na prática, o que se propõe, a rigor, é a eliminação da arena pública.
Por enquanto, o efeito da mudança de discurso do PT tem sido mais negativo do que positivo. Tem soado, em certas áreas, como se o partido estivesse tentando enganar a opinião pública. A seguir nessa linha, parece, então, que o petista Haddad tem de sair ainda mais explícito ao evidenciar a mudança de tom.