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Reinaldo Azevedo

Hoje, PMDB-PSDB em 2018 é inferior a zero; não ser da base é coisa distinta de tentar depor

Reinaldo Azevedo

28/11/2017 17h18

Duas informações, distintas e descombinadas, circulam hoje — uma, na verdade, é uma interpretação cujo estímulo original, confesso, é indetectável para mim. Comecemos por ela: Vera Rosa e Tania Monteiro dizem no Estadão que "Planalto vê chance de aliança com Alckmin". Eu sempre tenho receio quando o sujeito da frase é um prédio ou um ente. O "Planalto", originalmente, é o "Palácio do Planalto", sede do governo federal. Como edifício não faz avaliação, o que se quer dizer, por metonímia — toma-se o continente em lugar do conteúdo — é que o governo federal estaria a ver a tal chance. Mas aí a coisa é ampla demais. A rigor, abarca do ascensorista ao presidente.

Quem vê a chance?

Sei lá. Alguém andou tendo essa ideia. Pode até ter sido um assessor próximo ao presidente. Disse num dado momento: "Por que não?" No universo das possibilidades, tudo pode. No da realidade, não pode. Aí se lê lá: "Em conversas reservadas, auxiliares do presidente Michel Temer diziam nesta segunda-feira, 27, duvidar que o governador queira "queimar pontes" com o Planalto. Na semana passada, Alckmin participou do almoço de governadores com Temer, no Alvorada, e defendeu a reforma da Previdência, sob o argumento de que a mudança, de difícil aprovação, ajudará na criação de empregos."

Quando jornalistas têm acesso a "conversas reservadas", é porque a fonte quis que aquilo deixasse de ser… reservado.

Também nesta terça, Alckmin concedeu uma entrevista ao programa "90 Minutos", de José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes. E disse o seguinte sobre abandonar o governo:
"Abandonar no sentido de não ter compromisso, não. Porque temos compromisso, responsabilidade e temos que dar sustentação na Câmara Federal e votar projetos de interesse do País, mas eu sempre fui contra participar do governo. Acho que não tinha razão para o PSDB participar, indicar ministro. Bruno (ex-ministro da Cidades Bruno Araújo) já saiu, outros terão de sair pelo prazo da desincompatibilização. Acho que temos de fazer uma política diferente. Votaremos medidas de interesse do País, independentemente de termos cargos, ministérios ou participar do governo".

Bem, vamos dar de barato que, "compromisso com o Brasil", todos têm. O PT, por exemplo, acha que o modo de exercê-lo é se opondo à reforma da Previdência e prometendo rever a reforma trabalhista.

Como sanem, sempre achei incompreensível essa história de não participar do governo. Qual é a tese? Ajuda a derrubar e depois dá um solene "vire-se"? Não parece coisa muito decente.

De todo modo, é preciso preencher essa fórmula genérica do governador com fatos. Os deputados que são seus liderados votaram a favor da deposição do presidente Michel Temer. Se dois terços da Câmara tivessem agido como eles, dada a moral elevada de alguns que hoje envergam a toga, Temer estaria afastado da Presidência, e o país estaria em queda livre, ainda à procura do chão.

Então que fique claro: a menos que haja uma reaproximação que implique um "mea culpa" do grupo que está com o governador, as chances de entendimento entre PSDB e PMDB são inferiores a zero. Até porque independência em relação ao presidente é coisa diferente de tentar derrubar o presidente, certo?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.