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Reinaldo Azevedo

“Janot sempre soube de tudo”, diz Joesley; Saud vê procurador como sócio de Marcelo Miller

Reinaldo Azevedo

06/09/2017 05h01

Como? Rodrigo Janot e Marcelo Miller, o procurador que tem de ser preso, iriam trabalhar juntos? No mesmo escritório? É o que assegura o companheiro Ricardo Saud. Já chego lá.

Os que tentam jogar uma rede de proteção para ver se salvam Janot de se esborrachar — ele, que esteve bêbado de delírio durante todos esses anos, dado o poder que lhe conferiram os setores mistificadores da imprensa e a direita xucra — tentam minimizar um dado absolutamente chocante da fala de Joesley Batista e de Ricardo Saud — que, reitere-se, não sabiam que registravam a própria conversa. Eles não têm dúvida: o procurador-geral da República sempre soube de tudo. De tudo o quê? Das andanças, lambanças e escolhas de seu homem forte: Marcelo Miller. E, pois, das ilegalidades então em curso.

Joesley, seu irmão e a quadrilha que cerca a turma são quem são. Não estão aí por acaso. Não comandam aquela organização gigantesca porque sejam idiotas e não saibam, afinal, onde pisam. E o açougueiro de casaca é peremptório na conversa com o seu homem da mala:
"O Janot sabe todo.  A turma já falou por Janot".

Saud, então, pergunta se o interlocutor acredita que é Marcelo Miller quem está a levar as informações para o procurador-geral. E ouve a seguinte resposta:
"Não, não é o Marcelo. Nós falamos pro Anselmo. O Anselmo que falou pro Pelella, que falou pra não sei que lá, que falou pro Janot. O Janot está sabendo. Aí o Janot, espertão, o que o Janot falou? Bota pra foder. Bota pra foder. Põe pressão neles para eles entregar tudo".

Vamos explicar o conteúdo do que dizem Joesley e Saud. Deixemos a gramática para um possível curso quando recolhido a um presídio. O tal "Anselmo" é o procurador Anselmo Lopes, da Operação Greenfield — e parece que o homem não é exatamente um inimigo, né? Se até leva recadinho a Janot… Mas não só: Eduardo Pelella, chefe de gabinete do procurador-geral e seu real estaeta, também estaria sabendo do rolo. Aliás, se Janot tivesse charme para ser um Don Giovanni, Pelella seria o seu Leporello. No caso, é um Lepelella…

E Joesley segue lendo o que considera o jogo de Janot. O procurador-geral teria passado a seguinte orientação a seus bravos: intensifiquem a pressão sobre a turma da JBS, "dá pânico neles, mas não mexe com eles". Vale dizer: não é para prender.

E Saud avança, afirmando que, tão logo deixe a procuradoria, Janot vai trabalhar no mesmo escritório que abrigará Marcelo Miller: "É um amigo comum, que é dono de escritório , que é onde Janot vai trabalhar. E eu já entendi agora. O Marcelo saiu antes; tem um outro saindo, que ele me contou, é o Cristian, um tal de Cristian não sei o quê. E o Janot não vai concorrer, vai sair, vai advogar junto com ele [Marcelo Miller] e esse Cristian. Vai ser um escritório único. Vai (sic) tá ele, esse Cristian e Janot no escritório."

Em nota, Janot disse que não vai integrar escritório nenhum e que, depois de cumprir a quarentena, pretende trabalhar na inciativa privada, na área de compliance… É mesmo? Então ele vai se dedicar depois à transparência?

Notável!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.