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Reinaldo Azevedo

Lembram-se? Adverti o PSDB de que, sem lealdade e coragem, não se toma nem um Chicabom

Reinaldo Azevedo

21/08/2017 07h21

Nem nos seus piores pesadelos, o PSDB imaginou que viria a ser a principal vítima da Operação Lava Jato. É espantoso que assim seja. E assim é. Com a devida vênia, chamei a atenção aqui para dois comportamentos assumidos pelos tucanos quando Rodrigo Janot resolveu estourar a bomba no seu ninho: covardia e deslealdade. Acredite: esse par costuma garantir a ascensão de alguns factoides, eles duram algum tempo e depois têm de acertar contas com a própria mixuruquice. Chegarei ao ponto. Antes, vamos ver o que está em curso.

O senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido, levou ao ar no horário político, como é sabido, um programa destrambelhado. O partido destacava o que chama seus acertos no governo FHC, emendando em seguida: "Mas o PSDB errou". A frase foi repetida 13 vezes no programa, oito delas no intervalo de um minuto e meio. Diz o erro? Não! Entende-se que a legenda teria aderido a práticas condenáveis, como o fisiologismo, sendo alvo da cooptação na base do toma-lá-dá-cá. Sabe-se agora que o ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, que chegou a defender que Michel Temer encurtasse o próprio mandato, recebeu o roteiro e teria sugerido a troca da expressão "presidencialismo de coalizão" por "presidencialismo de cooptação".

Ocorre que o PSDB é o segundo partido em número de ministérios. Conta com nomes de peso no governo, como Antonio Imbassahy (Relações Institucionais), Aloizio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades). Os três reagiram indignados. A legenda tem ainda o Ministério dos Direitos Humanos (Luislinda Valois). A crítica veio a público num momento considerado crucial para as reformas. A da Previdência está aí posta, a armar o discurso das esquerdas. A política está em pauta e em curso. A irresponsabilidade da direção interina é espantosa.

O senador Aécio Neves (MG) está afastado da direção do partido. O diretório da cidade de São Paulo, presidido pelo vereador Mário Covas Neto — que é filho de Mário Covas, destaque-se —, emitiu neste domingo uma nota censurando encontros de Aécio com Temer, afirmando, de forma destrambelhada, que o senador tem de provar a sua inocência antes de voltar ao partido. Trata-se de um disparate. Até porque, de fato, o político mineiro foi tratar de questões relativas à Cemig. Lideranças as mais diversas lamentaram o tom da nota. Que importância tem Covas Neto? Bem, nenhuma! É daquelas personagens menores e marginais ao processo que, no entanto, se tornam exemplares de uma crise. A não ser numa circunstância como essa, quem daria bola para ele além de ninguém?

Agora há um movimento de lideranças com peso realmente nacional que ameaçam cair fora do partido se Tasso não deixar a presidência da legenda. Por quê? Ora, é claro que ele criou uma saia justa para o governo e para a base aliada. Como é que um partido ocupa espaço considerável da administração e usa o tempo de que dispõe na TV para atacar o governo? Não faz sentido. Ademais, a permanência de Tasso no comando derivava de um acordo entre as várias correntes. Não tinha autorização para fazer valer seu ponto de vista pessoal.

Todos sabem que não me comporto como juiz e não fico sentenciando pessoas. Assim, se Aécio, Lula e outros tantos são culpados ou inocentes, a decisão é da Justiça. Aponto características dos processos, evidências, falhas, fragilidades técnicas ou rigor etc.

Observem como os membros do PSDB e do PT se comportam de modos absolutamente distintos quando seus líderes são acusados. Os petistas saem em defesa dos seus — até que a culpa não fique evidenciada e, às vezes, depois disso também — e têm a ousadia de eleger uma senadora ré para a presidência do partido: Gleisi Hoffmann (PR). Quando Janot resolveu detonar Aécio, na mesma armação que buscou depor o presidente Michel Temer, a esmagadora maioria dos tucanos não ousou uma palavra em defesa de seu presidente, apesar das heterodoxias da operação. Ao contrário: começou imediatamente uma disputa por espaço no partido. Aecistas de carteirinha viraram as costas para aquele que chamavam de "meu presidente" até o dia anterior.

Não! Eu não acho que o PT honre a política ao fazer de Gleisi a sua presidente e ao tratar Lula como o homem sem máculas. Também não acho que o PSDB a desonre ao afastar Aécio da presidência. O ponto é outro: um partido tem chance de sobreviver quando não é o primeiro a jogar os seus ao mar — e aos aliados — e corre o risco de se esfarelar quando se deixa sequestrar pela história contada pelos adversários.

Quando a coisa estourou, lá atrás, escrevi em meu blog que o PSDB se apresentava para ser a principal vítima de Rodrigo Janot. O maior vitorioso das eleições de 2016 está se esfarelando. O PT, o maior derrotado, que se esfarelou, está se reaglutinando.

Bem, como escrevi então, meus caros, com deslealdade e covardia, não se consegue tomar um Chicabom.

É patético!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.