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Reinaldo Azevedo

Mensagem sobre suposta defesa que Haddad teria feito do fim do tabu de incesto é das coisas mais sórdidas que já vi em campanha eleitoral

Reinaldo Azevedo

15/10/2018 17h07

A campanha eleitoral está contando com alguns lances de uma sordidez inédita. Mensagem de Olavo de Carvalho no Facebook, reproduzido por Carlos Bolsonaro no Instagram, afirma que, em livro, Fernando Haddad pregou a derrubada do tabu do incesto. E Carvalho escreve: "Kit gay é fichinha. O homem quer que os meninos comam as suas mães". Haddad é autor de um livro chamado "Em Defesa do Socialismo". Eu mesmo já o critiquei aqui. Não sei se pensa a mesma coisa. O livro é ruim. Mas, por óbvio, nem ali nem em lugar nenhum o candidato pregou o fim do "tabu do incesto". É "fake news" que sai com grife. O autor é uma espécie de guru de muita gente. Os dois já apagaram a mensagem. Mas, como sempre, o rastro fica na Internet. Eu mesmo a recebi no celular de uma pessoa conhecida, indagando se aquilo poderia ser verdade.

O que é constrangedor? Segundo as pesquisas, Bolsonaro está quase 20 pontos à frente de Haddad. Ainda que estivessem empatados, é o tipo de comportamento inaceitável. O PT tem um histórico nos 13 anos de poder que fornece vasto material a quem quer combatê-lo dentro das regras do jogo. Qual é o problema de aderir a procedimentos dessa natureza? Trata-se de um processo de deslegitimação do outro que só seria bem-sucedido se esse "outro" fosse eliminado da vida pública, o que, obviamente, não vai ocorrer. A mensagem de Carvalho se segue a uma outra em que ele diz que os adversários de Bolsonaro, com a sua ascensão à Presidência, terão de lutar até por sua sobrevivência física. Não está claro o que quer dizer. Ou está? Que se saiba, a vitória do candidato do PSL não implica a eliminação física dos adversários.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.