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Reinaldo Azevedo

MORO E PALOCCI 3: Caso nada tem a ver com apuração da imprensa; liberal que aplaude uso instrumentalizado do Estado é só fascistoide

Reinaldo Azevedo

02/10/2018 04h29

Palocci depõe a Sérgio Moro: a delação nem existia, e ele se ofereceu em cena aberta para uma conversinha privada

Mas e a VEJA? Não fez a mesma coisa? A revista não é órgão do Estado. Publica o que consegue apurar — que é essa, aliás, a função precípua da imprensa. Desenterrou, sim, um processo antigo, já encerrado, mas que trazia uma questão de interesse público. A lista de bens que Bolsonaro entregou à Câmara é um documento. A que fez parte do processo de separação, também. O mesmo se diga do relato que está no Itamaraty. E os leitores e eleitores que façam seu julgamento. Se o Ibope estiver certo, a reportagem de capa não atrapalhou a candidatura do deputado. Pode até tê-lo beneficiado em razão da mobilização criada pelos militantes para tentar desacreditar a revista.

No caso de Moro, por óbvio, a situação é outra. Estamos falando de órgãos do Estado. Não reconhecer a diferença entre uma coisa e outra é algo bastante típico desses dias. Pior até: vejo, com frequência, a inversão do vetor moral nos dois casos: a VEJA teria errado, mas Moro só teria prestado um serviço à humanidade.

Claro, claro… Sei o peso de escrever essas coisas. Fazer o quê? Se muitos dos que eu tinha até anteontem como liberais estão condescendendo com esses arreganhos autoritários sob o pretexto de combater o PT, o que dizer? Lá vou eu atravessar, mais uma vez, uma quase deserto. O liberalismo, no Brasil, por enquanto, é uma ideia que não vingou. Guarda tanto parentesco com o que chamo de fascismo de esquerda como guarda com o fascismo de direita: nenhum!

Enquanto eu puder escrever e puder falar contra o uso industriado do Estado para fazer política, eu o farei. Se houver liberais perdidos por aí que ainda acreditem no triunfo da ordem legal, vamos nessa. Se não houver, vou caminhando sozinho ou quase.

Quem aplaude essas aberrações dizendo-se liberal está apenas confundindo as coisas. Seu nicho natural são os grupamentos fascistoides.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.