Os dois discursos de Temer: disciplina e continuidade das mudanças
O presidente Michel Temer fez dois discursos nesta segunda-feira. Um deles na Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB. O outro a oficiais generais das Forças Armadas durante almoço.
Na fundação, a fala eminentemente política. Afirmou:
"Quem for candidato a presidente e dizer que vai continuar ou que terá um governo também de reformas, estará cravando na sua campanha eleitoral a tese do acerto do nosso governo. E estará gravado governo Michel Temer no programa que vai ser estabelecido para o futuro por nós, que ousamos fazer uma revolução na política administrativa e econômica do nosso país".
Não chamarei de resposta a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, porque o mais não responde ao menos. Mas foi, sim, um contraponto a certas forças políticas, das quais Maia faz parte, que acreditam que podem usufruir do poder efetivo que lhes dá o governismo, sem, no entanto, arcar com o ônus da governabilidade.
Há mais: o governo Temer, como lembrou em entrevista à Folha nesta segunda o senador Romero Jucá (PMDB-RR), tem muito o que mostrar e tem um legado a defender. E haverá um candidato a fazê-lo. Quem será? Difícil saber a esta altura, mas poderá ser o próprio Temer.
Jucá deu a fórmula, que está correta: terá de ser alguém que demonstre que pode ganhar. E só vai demonstrar que pode ganhar quem souber unificar os partidos que caminham no centro do espectro ideológico. E isso compreende a defesa da herança do governo Temer. Ou o PMDB terá seu nome.
É o correto.
No almoço com os oficiais-generais, o presidente defendeu a necessidade de reinstitucionalizar o país e afirmou que nós, como povo e como cultura, não temos muito apreço pela disciplina. Vai acabar tomando pancada de todo lado por ter dito a coisa certa — repetindo, aliás, sociólogos que pensaram profundamente a questão, como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda.
O que representa o "homem cordial", definido em "Raízes do Brasil" senão esse desapego à disciplina, que não distingue o público do privado e que dá pouco apreço às instituições.
O presidente está pensando direito e está fazendo um governo que tirou o país da mais aguda crise econômica de sua história. Sua obra tem de ser continuada.
Quem se dispõe a fazê-lo?