OS MILITARES E A IGREJA 1: Militares formam a ala mais sensata do governo Bolsonaro, mas têm de distinguir democracia de ordem unida
Já afirmei aqui, creio, umas dezenas de vezes, que os militares compõem a ala mais sensata do governo, tantos são os desatinos que dizem e fazem os civis escolhidos pelo presidente Jair Bolsonaro para integrar seu ministério. Mas os homens de farda, ainda que a dita-cuja esteja devidamente dobrada e guardada em local seguro, também têm lá seus vícios de formação. E um deles é a ideia da ordem unida, que pode e deve funcionar numa força armada, mas não na sociedade. Esta, por natureza, é plural, caótica, meio bagunçada, com vozes dissonantes. Importante, aí sim, é que o Estado seja organizado e estruturado para, a um só tempo, garantir expressão à divergência — o valor principal da democracia está em poder discordar, já que é possível concordar também nas ditaduras — e assegurar a unidade do pais, fazendo valer a vontade da maioria, que, no entanto, não pode calar a minoria. Acreditem: se a democracia fosse, sei lá, o protótipo de uma máquina qualquer, os especialistas mandariam suspender o projeto com a seguinte indagação: "Como é que você quer criar um equipamento que vai contar com dispositivos que vão travá-lo de vez em quando?" Pois é…
A natureza não produziria democracia.
A engenharia não produziria democracia.
Democracia é uma criação imperfeita dos homens para abrigar vencidos e vencedores, ambos dignos de respeito e com seus devidos papeis. Por isso os comunistas não a suportam a não ser como valor transitório e instrumental. Afinal, para eles, a história tem um sentido, um rumo e um fim. Igualmente não a toleram os fascistas. Afinal, os fracos têm de ser eliminados, e os vencedores têm direito ao espólio resultante da luta. Por que isso tudo e o que tem a ver com os militares? Vou explicar.
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