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Reinaldo Azevedo

PIZZA PRÓ-BOLSONARO? 2: Queiroz diz não estar fugindo do Ministério Público do Rio; é preciso ver se MP não está fugindo de Queiroz

Reinaldo Azevedo

28/12/2018 01h08

Flávio Bolsonaro: seu gabinete foi palco de incríveis coincidência. Até Deus duvidaria

Na entrevista ao SBT, Queiroz fez afirmações que são, deixem-me ver como classificar…, inverossímeis. Pronto! Talvez sejam até verdadeiras, mas é difícil de acreditar. Segundo disse, aquela dinheirama toda que movimentou se devia ao comércio de carros usados — que devia ser frenético:
"[Eu ganhava] cerca de R$ 10 mil por mês (como assessor). Ainda tinha da minha ex-função [policial militar], cerca de R$ 10 mil a R$ 11 mil. [Por mês], em torno de R$ 23 mil. Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro. Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro, sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro em seguradora, na minha época lá atrás, eu comprava um carrinho, mandava arrumar, vendia."

E os depósitos feitos por outros assessores de Flávio Bolsonaro? Bem, isso ele vai explicar quando depuser ao Ministério Público. E o fato de três membros de sua família, lotados no gabinete de Flávio — uma delas migrou depois para o de Jair Bolsonaro, em Brasília, embora nunca tenha se mudado do Rio —, serem depositantes da conta? A resposta é um mimo:
"Esse mérito do dinheiro, eu quero explicar ao MP. São pessoas da minha família. Eu gero o dinheiro da minha família. Minhas filhas trabalham comigo desde os 15 anos. Quando tinha vaga [nos gabinetes], eu pedia para empregá-las. Minha filha que sempre cuidou da mídia do deputado dará esclarecimento."

Não há dúvida de que os Bolsonaros prezam mesmo a família, não é? Há frases na entrevista de Fabrício Queiroz que têm de entrar para a história: "Eu gero o dinheiro da minha família" só perde em assombro para "eu faço dinheiro".

Se você ficou com a impressão de que se está tentando varrer essa história para baixo do tapete, saiba que não está sozinho.

Ah, sim: Queiroz é uma máquina de produzir coincidências. Mais da metade dos depósitos em espécie recebidos por ele em 2016 foram feitos no dia do pagamento dos funcionários da Assembleia Legislativa do Rio ou até três dias úteis depois. Estão nesse caso 34 das 59 operações — 15 foram efeituados no mesmo dia. O resto se deu em até uma semana. Efetuados os depósitos, o assessor fazia em seguida os saques em dinheiro. Ninguém sabia até então que o mercado de carros usados se deixava regular pela data de pagamento aos funcionários da Assembleia Legislativa do Rio. E olhem que as datas de pagamentos eram irregulares em razão da crise financeira enfrentada pelo Estado.

Queiroz afirmou sobre sua saúde:
"Tenho uma cirurgia pra fazer no ombro. Estava com problema na urina, tosse. E foi constatado um câncer. É um câncer maligno, indicado sem nem pegar a biopsia. Vou ser submetido a outros exames e [o médico] me disse que temos que operar o mais rápido possível. É um tumor grande no intestino. As fezes passam fininho. Não estou fugindo do MP. Quero prestar esclarecimento."

Bem, o Interesse público pede que preste depoimento o quanto antes. Queiroz diz não estar fugindo do MP. A esta altura, então, é preciso ver se o MP não está fugindo de Queiroz.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.