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Reinaldo Azevedo

PT tem de torcer para sobreviver à tal onda na qual certa imprensa resolveu também pegar uma carona; se acontecer, a disputa vira outra

Reinaldo Azevedo

05/10/2018 08h25

O que o Datafolha traz de mais evidente nesta quinta é que a onda pró-Bolsonaro se move, embora não numa velocidade que permita a alguém dizer que a vitória no primeiro turno é provável. Ainda não! Mas é possível. O PT ter visto Bolsonaro disparar sem lhe fazer oposição constituiu, sim, um erro grave. Tal crescimento passou a acenar para a possibilidade, ainda que remota, de liquidar a fatura agora. Mais: um desempenho muito robusto no primeiro turno já deixa um belo capital para uma eventual disputa no segundo. Com 35% das intenções de voto — 39% dos válidos — contra 22% do petista (25% dos válidos), Bolsonaro ainda está longe de lograr tal feito. Com rejeição alta, de 45%, teria de praticamente levar todos os votos do terreno conservador e ainda nacos de Marina e Ciro…

Se o PT passar agora por essa porta estreita, aí as perspectivas se abrem de novo porque se terá um confronto de rejeições que vai gerar certamente muito barulho. Sim, cada um entra com a sua fragilidade. A do petismo está nas múltiplas denúncias de corrupção e no desastre do governo Dilma. A de Bolsonaro, no óbvio e admitido despreparo intelectual para a função, razão por que ele terceiriza a economia a Paulo Guedes, nas falas desencontradas sobre planos de governo e na truculência do discurso.

O fato e que o dito "fenômeno Bolsonaro" — antes tido como uma pessoa até folclórica, embora de discurso virulento — de fenomenal, no sentido do extraordinário, do inusitado, nada tem. Há muito tempo ele anda agitando as redes, cativando fiéis. Formou uma massa crítica de admiradores que conseguiram levar a campanha adiante na ausência do "chefe".

Outra coisa: a fila do beija-mão de Bolsonaro já está dobrando a esquina. É formada por aqueles "políticos tradicionais" contra os quais sua campanha fala de modo entusiasmado. Claro, eu sei: os militantes da causa dirão que o chefe está sempre certo e ponto final. Mas só a militância não ganha a eleição. Há quem realmente acredite que é possível governar sem o apoio do Congresso e daquelas caras de sempre. E estas já buscam seu lugar ao sol.

Se houver um segundo turno, talvez Bolsonaro de pareça menos com um "outsider". Será que isso é bom no seu caso?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.