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Reinaldo Azevedo

Raquel Dodge, heroína da extrema-direita nas redes, vai conhecer agora o reverso da fortuna: denunciou Bolsonaros pai e filho

Reinaldo Azevedo

14/04/2018 06h51

Raquel e Bolsonaro: a doutora se prepare. Vem chumbo grosso por aí. ESSA FOTO PERTENCE A VAGNER LEAL DO ROSÁRIO. (à direita)

Huuummm…

Raquel Dodge, que tem sido cantada em prosa e verso pela extrema-direita por se mostrar uma sucessora à altura de Rodrigo Janot no ataque às garantias constitucionais, vai conhecer agora o reverso da fortuna. Por quê? Informa a Folha:

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou nesta sexta-feira (13) o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo crime de racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.
Também deputado, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável, foi denunciado por ameaçar uma jornalista. A pena prevista –de um a seis meses de detenção– pode ser convertida em medidas alternativas, desde que sejam preenchidos os requisitos legais.
A pena para o crime atribuído a Jair Bolsonaro é de um a três anos de reclusão. A Procuradoria pede ainda pagamento mínimo de R$ 400 mil por danos morais coletivos.
Bolsonaro e seu filho ainda não se manifestaram sobre as denúncias.
Segundo Dodge, durante palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril do ano passado, em pouco mais de uma hora de discurso, "Jair Bolsonaro usou expressões de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários grupos sociais".
Para Dodge, a conduta do presidenciável é "ilícita, inaceitável e severamente reprovável".
A denúncia destaca que o deputado, na ocasião, fez um paralelo da formação de sua família para "destilar preconceito contra as mulheres". A Procuradoria cita a frase em que Bolsonaro disse: "Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".
"Em seguida, Bolsonaro apontou seu discurso de ódio para os índios, impondo-lhes a culpa pela não construção de três hidrelétricas em Roraima e criticando as demarcações de terras indígenas", diz a Procuradoria.
Segundo Dodge, o ataque a variados grupos sociais continuou mirando os quilombolas. A denúncia mencionou então a seguinte frase do deputado: "Eu fui em um quilombola em El Dourado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas".

Dodge também denunciou Eduardo Bolsonaro. Informa o Estadão:
"Em relação a Eduardo Bolsonaro, a PGR afirma que, por meio do aplicativo Telegram, o deputado enviou várias mensagens à jornalista Patrícia de Oliveira Souza Lélis dizendo que iria acabar com a vida dela e que ela iria se arrepender de ter nascido. O parlamentar escreveu ainda diversas palavras de baixo calão com o intuito de macular a imagem da companheira de partido: 'otária', 'abusada', 'vai para o inferno', 'puta' e 'vagabunda'. A discussão ocorreu depois que Eduardo Bolsonaro postou no Facebook que estaria namorando Patrícia Lélis, que nega a relação. Além de prints das conversas que comprovam a ameaça, a vítima prestou depoimento relatando o crime."

Foro especial
Vejam vocês! Se já estivesse valendo a "Padrão Roberto Barroso" sobre foro especial, as denúncias deveriam ser apresentadas à Justiça de primeira instância porque são crimes que não guardam relação com os respectivos mandatos. Até onde se sabe, chamar alguém de "puta", prometendo "acabar com a sua vida" não deriva das atribuições do rapaz como parlamentar. Quanto ao Bolsonaro Pai, dá-se o mesmo: tecer considerações sobre o obesidade de quilombolas e tratar de seu peso em "arrobas" também não parece atitude decorrente do mandato.

Se condenado pelo Supremo em sentença criminal, um deputado pode ou não tem o mandato cassado. Vai depender do plenário, em votação aberta, segundo dispõe o Artigo 52 da Constituição. Mas a inelegibilidade está garantida pela Lei da Ficha Limpa. Afinal, o STF é um colegiado.

Nesse caso, não haverá tempo de o processo ser julgado antes da eleição, ainda que seja aceito.

Ocorre que Bolsonaro já é réu no Supremo por incitação ao estupro. O relator do caso é Luiz Fux. Que tem sido um amigão do deputado no que diz respeito a prazos. Voltarei ao tema em outro post.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.