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Reinaldo Azevedo

Rejeição de mulheres a Bolsonaro sobe de 43% para 49%; entre mais pobres, de 41% para 46%; rejeitam-no 40% dos pardos e 51% dos negros

Reinaldo Azevedo

11/09/2018 09h03

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, oscilou dois pontos para mais na pesquisa Datafolha feita, tabulada e divulgada nesta segunda. Passou de 22% no dia 22 de agosto para 24% agora. No segundo turno, perderia para todos adversários testados. A diferença em favor de seus contendores aumentou. A dúvida seria Fernando Haddad. Ainda assim, estão em empate técnico: 38% a 37% para o petista. A rejeição passou de 39% para 43%, a mais alta entre os candidatos. É evidente que os partidários do deputado não contavam com a facada desferida por Adelio Bispo de Oliveira no dia 6, em Juiz de Fora, Minas, mas não me parece menos verdadeiro que os partidários do capitão reformado foram com muita sede ao pote na exploração eleitoreira do evento criminoso. E o resultado está muito longe das apostas feitas.

O que foi mesmo que afirmei aqui, na manhã de ontem? Eu lembro:
"Bolsonaro, segundo os institutos, vem conseguido suas melhores marcas entre os universitários e os mais ricos. São segmentos importantes porque tendem a ser formadores de opinião, mas esses grupos não decidem uma eleição. Tudo vai depender de como os mais pobres vão registrar o episódio. Também vai pesar o comportamento das mulheres, grupo em que a rejeição a seu nome é alta. Se houver mudanças significativas nesses estratos, as chances de Bolsonaro crescem bastante."

Pois é… Quem ficou atento apenas à reação nos segmentos em que o candidato mantém seus melhores resultados acabou tendo uma impressão distorcida dos fatos. Segundo o Datafolha, a rejeição das mulheres a Bolsonaro cresceu de 43% para 49%. No eleitorado que tem apenas o ensino fundamental, oscilou para cima: de 37% para 39%. Entre os que ganham até dois salários mínimos, também houve crescimento: de 41% para 46%. Na faixa de 2 a 5, não votariam nele de jeito nenhum 42%. Eram 38% há três semanas. Ele também é o mais rejeitado por aqueles que se dizem pardos: 40%. Entre os que se identificam como negros, esse número chega a 46%. No Nordeste, o "não" ao candidato oscilou de 50% para 51%.

Por razões que os estrategistas de Bolsonaro deveriam trabalhar — se ele os tivesse —, a candidatura do deputado está sendo vista como hostil às mulheres, aos pobres, aos pardos e negros, aos nordestinos e aos de menor escolaridade. Em coerência com esses dados, ele se mantém estável entre os que ganham mais de 10 mínimos (de 33% para 31%), embora a rejeição tenha crescido de 35% para 43%. Lidera entre os homens, oscilando de 30% para 32%, embora 37% não votem nele de jeito nenhum. Tem a dianteira entre os universitários, variando de 27% para 30%, mas 48% nesse grupo também se recusam a lhe dar o voto.

Esses dados explicam por que se frustraram aqueles que esperavam que a facada desferida por um criminoso ou por um doidivanas poderia decidir o destino da Presidência da República. Como já afirmei aqui, Bolsonaro até pode se eleger, mas não será por causa daquele crime.

Houve ainda uma reação despropositada de seus militantes e de seus homens fortes. O presidente interino do partido, Gustavo Bebiano, chegou a anunciar: "Agora é guerra". O deputado Onyx Lorenzoni acusou uma conspiração do Foro de São Paulo. Ainda entorpecido, no leito da UTI do Albert Einstein, gravou-se um vídeo com o deputado. O senador Magno Malta exibiu a ferida da cirurgia, e o próprio Bolsonaro se deixou fotografar fazendo, mais uma vez, a mímica de uma arma. Eduardo Bolsonaro, seu filho, chegou a dizer, ninguém sabe com base em quê, que um tiro de revólver teria provocado menos danos a seu pai. Uma imagem que circula entre seus seguidores mostra Jesus tirando-o das águas com o texto: "Segure em minhas mãos, capitão… Ainda temos que salvar um país inteiro…"

Parece que parte considerável da população — na verdade, a maioria, especialmente entre os mais pobres — não cedeu a essa abordagem, mantendo a opinião que tinha sobre o candidato, embora certamente repudie a agressão.

Os bolsonaristas vão ter de voltar à prancheta.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.